Não é complicado entender o que a esquerda radical – ao contrário dos “progressistas” moderados – defende. Se você perguntar a um cristão o que tem de ler para entender o básico do cristianismo, ele lhe recomendará a Bíblia. Se você perguntar o mesmo a um judeu religioso, ele mencionará a Bíblia hebraica e o Talmude. Se você perguntar a um mórmon, ele responderá com a Bíblia e o Livro de Mórmon. Pergunte a um muçulmano e ele falará do Corão.
Mas, se você pedir a um esquerdista que recomende um ou dois livros que você deveria ler para entender o esquerdismo, cada pessoa dará uma resposta diferente, ou pedirá um tempo para pensar no assunto. Poucos – isso se alguém o fizer – recomendarão O Capital, de Marx, porque quase nenhum esquerdista o leu, ou porque você ou não vai terminar o livro, ou vai descartá-lo por ser incoerente.
Então, como entender o que o esquerdismo defende? A verdade é que isso é quase impossível. Qual esquerdista, ao longo da história, teria imaginado que hoje, para ser um esquerdista, é preciso acreditar que homens podem dar à luz ou menstruar, ou que é justo para uma mulher competir contra homens biológicos que se identificam como mulheres no esporte?
O esquerdismo consiste em causas que dão, para aqueles que de outra forma careceriam de propósito, algo ao qual se agarrar na busca por sentido
Há duas razões principais pelas quais é tão difícil, se não impossível, definir o esquerdismo. Uma é o fato de ele, no fim das contas, defender o caos: “fronteiras abertas”; gêneros “não binários”; “arte” absurda e escatológica; “música” sem tonalidade, melodia ou harmonia; “hora da história” com drag queens para crianças de 5 anos; rejeição da ideia de civilizações superiores ou inferiores; rejeição da noção de arte melhor ou pior; remoção do retrato de Shakespeare do departamento de Inglês de uma universidade porque ele era um homem branco; o fim do uso de todos os combustíveis fósseis, mesmo no transporte (a julgar por recente recomendação do chefe da Organização Meteorológica Internacional da ONU); o desmanche do capitalismo, o motor econômico que tirou bilhões de pessoas da mais abjeta pobreza; e muito mais.
A outra razão pela qual é impossível definir o esquerdismo é o fato de ele ser baseado em emoção. O esquerdismo consiste em causas que dão, para aqueles que de outra forma careceriam de propósito, algo ao qual se agarrar na busca por sentido.
Dois fatos sobre Greta Thunberg, escolhida “pessoa do ano” de 2019 pela revista Time, provam essas explicações.
Em relação ao caos, eis o que Greta escreveu no começo do mês passado: “A crise climática não é apenas sobre o meio ambiente. É uma crise de direitos humanos, de justiça e vontade política. Os sistemas de opressão coloniais, racistas e patriarcais a criaram e alimentaram. Precisamos demoli-los todos”. Greta, como todo esquerdista, quer desmontar praticamente tudo. Como o ex-presidente Barack Obama disse, cinco dias antes da eleição de 2008, “estamos a cinco dias de transformar fundamentalmente os Estados Unidos da América”.
Quanto à emoção e ao sentido, o jornal The Guardian republica o que o pai de Greta disse à BBC: “O pai de Greta Thunberg se abriu sobre como o ativismo ajudou a filha a sair da depressão (…) como o ativismo mudou a adolescente, que sofria de depressão por ‘três ou quatro anos’ antes de começar seus protestos, faltando às aulas para ficar do lado de fora do parlamento sueco. Ela estava agora ‘muito feliz’, ele disse (…) ‘Ela parou de falar (…) parou de ir à escola’, disse ele sobre a doença da filha”.
O mundo pós-judaico-cristão que a esquerda criou deixou um grande número de pessoas no Ocidente, especialmente um número crescente de jovens, sem significado. Esse buraco do tamanho do Grand Canyon é preenchido com causas esquerdistas.
O fato é que a vida está melhor, mais segura e mais próspera, e oferece mais oportunidades para mais gente, como nunca antes na história. Qualquer pessoa emocionalmente estável e madura no Ocidente deveria estar maravilhada pela sorte que tem – e os americanos, especialmente, deveriam se sentir assim. Mas os esquerdistas (novamente, ao contrário de muitos “progressistas”) normalmente não são emocionalmente estáveis, e certamente não têm maturidade. É por isso que a depressão entre jovens americanos (e, talvez, suecos) esteja nos níveis mais altos já registrados.
O mundo pós-judaico-cristão que a esquerda criou deixou um grande número de pessoas no Ocidente, especialmente um número crescente de jovens, sem significado
Então, assim com Greta, eles se agarram a causas esquerdistas para encontrar sentido e realização emocional. Até ela abraçar o ativismo climático – o que vê como uma chance de literalmente salvar o mundo –, ela estava tão deprimida que tinha “parado de falar”. Mas, graças ao ativismo climático e outras causas de esquerda, agora ela está “muito feliz” (uma afirmação que, suspeito, muita gente achará difícil de acreditar).
O feminismo e “a luta contra o patriarcado”, em uma era na qual as mulheres americanas têm mais oportunidades do que já tiveram antes, e mais que as mulheres de quase todo o resto do mundo; a luta contra o racismo na sociedade mais multirracial e menos racista da história; o combate a uma “supremacia branca” que já está quase erradicada da vida americana; e a luta por uma série de outras causas esquerdistas – em outras palavras, transformar fundamentalmente a sociedade – dá sentido a pessoas que não viam sentido em nada.
Nada disso é moralmente ou racionalmente coerente. Mas dá uma enorme satisfação emocional. Pergunte ao pai de Greta Thunberg.
Dennis Prager é colunista do The Daily Signal, apresentador de rádio e criador da PragerU. Tradução: Marcio Antonio Campos.
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