Deputado foi acusado de corrupção passiva e lavagem de dinheiro por vantagens indevidas da empreiteira em 2014
A Polícia Federal apresentou relatório cobrando o indiciamento do deputado Paulinho da Força (SD-SP) pelos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro no inquérito que apura repasses de R$ 1,8 milhão da Odebrecht para o parlamentar em 2014. As investigações tiveram como base a delação premiada do ex-presidente da Odebrecht Ambiental, Fernando Reis, e áudios da transportadora da empreiteira, a Transnacional.
Paulinho da Força era investigado desde abril de 2017, quando o ministro do Supremo Tribunal Federal Edson Fachin, relator da Lava Jato na Corte, abriu inquérito para apurar acusações feitas por Reis contra o parlamentar. O executivo afirmou ter repassado R$ 1 milhão para o deputado em duas parcelas de R$ 500 mil, em 2014. Anos depois, mudou a versão e afirmou que os pagamentos chegaram a R$ 1,8 milhão.
“Para a empresa seria importante ter um aliado nas ‘fileiras trabalhistas’, mormente um ocupante de cargo legislativo influente, Presidente da Força Sindical e de importante partido de defesa dos direitos trabalhistas (Solidariedade). Em contrapartida, o parlamentar receberia regulares contribuições financeiras para atender aos anseios da empresa”, afirma a Polícia Federal, em relatório.
O documento foi encaminhado para vistas da Procuradoria-Geral da República, que pode denunciar o parlamentar ou arquivar o inquérito.
Em depoimento, Paulinho da Força negou ter recebido os valores assim como ter prometido qualquer tipo de contrapartida em decorrência de doações feitas pelo grupo Odebrecht. O parlamentar admitiu que se reuniu com executivos da empreiteira no contexto de sua campanha eleitoral em 2014, ocasião em que ficou acertada doação eleitoral de Marcelo Odebrecht.
Segundo Paulinho da Força, o seu partido, o Solidariedade, recebeu R$ 2 milhões de empresas ligadas à empreiteira, sendo que sua candidatura recebeu aproximadamente R$ 180 mil. Os valores, afirma, foram devidamente declarados à Justiça Eleitoral.
A Polícia Federal, no entanto, declarou que a versão apresentada pelo deputado ‘não encontra guarida’ nas provas coletadas no inquérito.
“A versão apresentada por ‘Paulinho da Força’ não encontra guarida quando confrontada com os indícios e provas dos autos, mormente ante a robusta comprovação das entregas, de maneira dissimulada, utilizando-se senhas, códigos, terceiros interpostos, etc., num complexo e arriscado sistema de ocultação de numerário, sem arrimo nas transações bancárias, tão seguras e céleres”, afirma.
A delação de Fernando Reis aponta que o dinheiro era contrapartida por Paulinho da Força ter intermediado o fim da greve da Embraport, em 2013, e de uma invasão à sede da empreiteira em 2014. Segundo o empresário, a solicitação das vantagens indevidas partiu do próprio deputado para financiar sua campanha eleitoral daquele ano.
Investigação
Valor indicado por transportadora a ‘intermediário’ do deputado Paulinho da Força é quase o dobro do citado por delator da Odebrecht
A delação de Reis foi inicialmente corroborada pelo sistema de registro de propinas da Odebrecht, o Drousys, que marcou o pagamento de duas parcelas de R$ 500 mil ao codinome “Forte”, atribuído a Paulinho da Força.
A hipótese, no entanto, mudou após a Polícia Federal receber mensagens de áudios entregues por um ex-funcionário da Transnacional, empresa contratada pelo doleiro Álvaro Novis, hoje delator da Lava Jato, para fazer as entregas de propina a mando da Odebrecht. As conversas indicavam a realização de quatro pagamentos, ao invés de dois, no valor total de R$ 1,8 milhão.
De acordo com as mensagens de áudio, a qual o ‘Estado’ teve acesso em julho deste ano, os repasses foram feitos entre agosto e setembro de 2014 via Marcelo de Lima Cavalcanti, então chefe de gabinete de Paulinho da Força, na sede da Força Sindical, entidade presidida pelo parlamentar até o ano passado.
As entregas teriam sido realizadas nos dias 22 de agosto (R$ 500 mil, senha “Ford”), 04 de setembro (R$ 500 mil, senha “Volkswagen”), 11 de setembro (R$ 500 mil, senha “Chevrolet”) e 16 de setembro (R$ 300 mil, senha “Pandeiro”).
Ao ser chamado para esclarecer as discrepâncias entre sua delação e os áudios, Fernando Reis, da Odebrecht, retificou a versão e confirmou que, na verdade, foram pagos R$ 1,8 milhão a Paulinho da Força. “Neste mesmo ato, o colaborador relata que os pagamentos foram realizados para garantir uma atuação futura do parlamentar em benefício da Odebrecht no sentido de influenciar no aumento da participação privada no setor de saneamento”, anota a Polícia Federal.
Os valores correspondem a planilhas de pagamentos apresentadas à PF pelo doleiro Álvaro Novis em delação premiada.
COM A PALAVRA, O DEPUTADO PAULINHO DA FORÇA
A reportagem busca contato com o deputado Paulinho da Força. O espaço está aberto a manifestações (paulo.netto@estadao.com).
Em depoimento prestado à Polícia Federal anexado no relatório, o parlamentar nega que tenha recebido vantagens indevidas da Odebrecht ou ter prometido qualquer tipo de contrapartida em decorrência de doações eleitorais feitas pela empreiteira.
Confira matéria do site Estadão.
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