OEA conclui que houve “manipulação dolosa” em eleições na Bolívia

Manifestantes tentam chegar ao Tribunal Superior Eleitoral da Bolívia após a divulgação do resultado da eleição, 24 de outubro, La Paz| Foto: Jorge bernal / AFP

A Organização dos Estados Americanos (OEA) divulgou nesta quarta-feira (4) o relatório final da auditoria sobre as eleições de 20 de outubro na Bolívia, que deram a vitória ao então presidente Evo Morales mas que foram canceladas pelas suspeitas de fraudes. Segundo a organização, houve “ações deliberadas que buscaram manipular o resultado da eleição”, além de irregularidades e erros.

Morales renunciou ao cargo após pressão da oposição e de militares e está em asilo político no México. Em seguida, a senadora oposicionista Jeanine Áñez assumiu a presidência do país interinamente.

O relatório informa que a equipe de auditoria detectou “manipulação dolosa” das eleições pela alteração das atas de votação e falsificação de assinaturas de jurados de mesas, além de manipulação no processamento dos resultados, pelo redirecionamento do fluxo de dados a dois servidores ocultos e não controlados pelo pessoal do Tribunal Superior Eleitoral.

Sobre a paralisação da apuração provisória – o que motivou as denúncias de fraude – a OEA diz que sua análise “permite determinar que a paralisação não foi um acidente nem uma decisão baseada em fundamentos técnicos. Foi simplesmente uma decisão arbitrária, cujo propósito incluiu a manipulação de infraestrutura informática”.

Quando o sistema retomou a contagem no dia seguinte, continua o relatório, apareceu em cena um servidor oculto, que não havia sido declarado e não era controlado pela empresa auditora ou pelo pessoal técnico do órgão eleitoral. Através desse servidor, foram processadas as informações restantes da apuração provisória correspondente a mais de 1.400 atas.

“A análise pericial revela que, de maneira deliberada, foi construída uma estrutura informática oculta, com capacidade de modificar resultados eleitorais, assim como apagar qualquer rastro dessa atividade”, afirma o documento.

A presidente interina Jeanine Áñez promulgou, em 24 de novembro, a lei que cancelou as eleições de 20 de outubro e convoca um novo pleito, ainda sem data definida.

Algumas das ações e omissões detectadas pela auditoria e mencionadas pelo relatório estão listadas a seguir:

“Ações deliberadas que buscaram manipular o resultado da eleição”

  • Paralisação intencional e arbitrária do Sistema de Transmissão de Resultados Preliminares (Trep)
  • Introdução de servidores não previstos à infraestrutura tecnológica “aos quais foi desviado de maneira intencional” o fluxo de informação do Trep.
  • Mentiras a respeito da configuração real de um servidor oculto.
  • Queima de atas eleitorais, assim como de mais de 13 mil listas de eleitores habilitados, que permitem comparar a informação das atas de escrutínio e de cômputo.

“Irregularidades graves”

  • Metadados das imagens do Trep não foram preservados para que se pudesse comprovar a autenticidade das imagens e a fonte dos arquivos.
  • Ficou comprovado que imagens do Trep – que são fotos das atas – foram enviadas do Trep ao cômputo oficial. A situação descarta a garantia de que o Trep e o cômputo oficial eram dois processos independentes.

Confira matéria do site Gazeta do Povo.

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