O presidente dos EUA, Donald Trump, anunciou na manhã desta segunda-feira (2) que o país irá aumentar as tarifas para importação de aço e alumínio vindos do Brasil e da Argentina. Trump anunciou a medida em um post no Twitter, acusando os dois países de provocar a desvalorização de suas moedas de forma deliberada.
A justificativa do presidente norte-americano é de que a valorização do dólar, nesses casos, prejudica os produtores dos EUA. “O Federal Reserve deve atuar para que países como esses não tirem vantagem do dólar forte, por meio da desvalorização de suas próprias moedas”, disse o presidente em uma das publicações.
Veja a íntegra do post:
Brazil and Argentina have been presiding over a massive devaluation of their currencies. which is not good for our farmers. Therefore, effective immediately, I will restore the Tariffs on all Steel & Aluminum that is shipped into the U.S. from those countries. The Federal….
— Donald J. Trump (@realDonaldTrump) December 2, 2019
Medida é narrativa para o público interno, avalia especialista
O aumento na tarifa de importação do aço e do alumínio brasileiros e argentinos é, na verdade, a restauração de uma alteração implementada pelo governo norte-americano em março de 2018. Naquele mês, os EUA sobretaxaram as importações de aço em 25% e de alumínio em 10%, em um dos capítulos da guerra comercial com a China.
Em agosto de 2018, porém, o governo norte-americano revogou a medida para alguns países, incluindo Brasil e Argentina. Agora, de acordo com o anúncio de Trump, o governo norte-americano irá voltar a sobretaxar as matérias-primas dos dois países, mas ainda não definiu quais serão os valores das tarifas.
“Isso faz parte de uma retórica do presidente norte-americano de preservar indústrias tradicionais e mais antigas do país, que não são de alta tecnologia. Em tese, elas sofreram mais com a concorrência estrangeira. É uma narrativa para o público interno porque, na prática, nem Brasil nem Argentina desvalorizaram suas moedas de propósito”, explica Wagner Parente, CEO da consultoria BMJ.
Segundo ele, no caso brasileiro, o retorno à prática das taxas mais altas pode ser resultado da aproximação entre o governo Bolsonaro e os chineses. “Não temos como saber, ainda, quais serão os valores aplicados porque esse tipo de tarifa não segue a normativa internacional. É uma fronta às regras da Organização Mundial do Comércio”, avalia Parente.
Bolsonaro diz que “tem canal aberto” com Trump
O presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, já comentou o caso. Na saída do Palácio da Alvorada, ainda na manhã desta segunda-feira (2), Bolsonaro disse que irá falar com o ministro da Economia, Paulo Guedes, e, se for o caso, com Trump. “Tenho canal aberto com ele [o presidente norte-americano]. Não quero falar nada agora para não ter que recuar depois”, afirmou.
A reportagem entrou em contato com o Instituto Aço Brasil, que representa as empresas brasileiras produtoras de aço, e aguarda um posicionamento da entidade.
Dólar bateu recorde na semana passada
Na semana passada, a cotação do dólar bateu recorde em valor nominal desde a criação do Plano Real. A moeda norte-americana chegou a R$ 4,26 na quarta-feira (27). Na sexta-feira (29), o dólar comercial fechou a R$ 4,24. O cenário tende a ser favorável às exportações brasileiras.
“É bom para a gente, porque vamos exportar mais e com o dólar mais alto. Recebemos um volume maior em dinheiro”, afirmou Cristiane Quartaroli, do Banco Ourinvest, à Gazeta do Povo em entrevista na semana passada.
Antes da escalada no valor da moeda, o ministro da Economia, Paulo Guedes, disse, em viagem aos EUA, que os brasileiros teriam que “se acostumar com o câmbio mais alto por um bom tempo”.
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