O governo Bolsonaro comprou briga com a mídia mainstream, e pretende usar as verbas públicas como munição, além da demonização frequente que a militância faz dos principais veículos mais críticos nas redes sociais. Que há viés ideológico em boa parte da imprensa, assim como má vontade com o atual presidente, isso está claro. O que não quer dizer que devamos aplaudir a campanha bolsonarista.
Dito isso, essa batalha tende a produzir muito ruído ainda. Para atacar o secretário responsável pela Secom, o judeu Fábio Wajngarten, a revista IstoÉ publicou uma matéria de capa o chamando de Goebbels, líder nazista responsável pela propaganda de Hitler. O teor da reportagem também tem pitadas fortes antissemitas, o que revoltou a comunidade judaica.
A parte mais polêmica é aquela que fala da “conexão judaica”. Alguém consegue pensar numa reportagem falando da “conexão negra” ou “conexão gay”? A menção ao empresariado milionário não é fortuita, portanto: “De acordo com um deputado que acompanhou o trabalho de Wajngarten na campanha, ele envolveu a comunidade judaica no convencimento de aproximadamente 60 empresários judeus e milionários de São Paulo. Promoveu, assim, diversos jantares em apoio ao candidato do PSL na residência do empresário Meyer Negri, dono da Construtora Tecnisa, amigo de infância do chefão da Secom”.
Nurit Gil escreveu um texto como resposta que circulou nos grupos de judeus. Num trecho, após falar de sua infância dura, diz:
Ricardo Kertzman, judeu brasileiro de 52 anos, escreveu uma nota sobre a matéria também, concordando que a postura do ministro é “lamentável” e “antidemocrática”, mas reclamando do tom preconceituoso contra sua religião:
André Lajst, diretor da StandWithUs Brasil, uma ONG que tenta levar mais conhecimento ao público sobre as verdades de Israel, emitiu uma nota de repúdio à reportagem de capa da revista:
As ilações conspiracionistas sobre a ‘manipulação da comunidade judaica’ são horrendas. Falam de judeus milionários, colaboração de empresas israelenses, sem o óbvio: apontar nomes e o que que o fato de serem judeus ou israelenses teria a ver com os fatos.
E isso justo na semana em que lembramos os 71 anos da Noite dos Cristais, que deu início à perseguição e execução sistêmica dos judeus pela Alemanha Nazista.
A reportagem gerou repercussão tímida na grande imprensa em si, talvez porque ela esteja em guerra com o governo Bolsonaro e o material serve de munição. Mas deve-se tomar o devido cuidado para não permitir que o antissemitismo floresça em nosso país, ainda mais quando se sabe que o presidente Bolsonaro é simpático à causa de Israel (o que é absolutamente legítimo e mesmo louvável).
Acho que caberia à revista e ao autor Germano Oliveira um pedido de desculpas, pois no meio judaico a reportagem pegou muito mal, e com razão.
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