Avanço do óleo ameaça área de manguezais no Ceará

Área de Proteção Ambiental (APA) da Barra Grande, em Icapuí FOTO: REPRODUÇÃO/FUNDAÇÃO BRASIL CIDADÃO

Na manhã de ontem (28), pequenos resíduos da substância foram observados às margens da foz do Rio Piranji, em Parajuru. Especialistas apontam que os mangues são importantes no sequestro de carbono e manutenção do clima global

Desde que a mancha de petróleo cru começou a chegar ao litoral cearense, no fim do mês de agosto, os prejuízos trazidos abordam diversas esferas, desde ambientais, econômicas a sociais. Com a origem e composição ainda desconhecidas, caso não seja controlada, a substância pode vir a afetar um dos mais importantes filtros ecológicos das faixas de transição de rios com o mar: os manguezais, ecossistemas costeiros presentes em cerca de 20 mil hectares do litoral cearense.

Esta ameaça já se torna mais acentuada em algumas localidades, como na foz do Rio Piranji, em Parajuru. Ontem (28), foram observados pequenos resíduos da substância em uma vila de pescadores no município de Beberibe, na região Norte do Estado. Embora as manchas ainda não tenham chegado ao leito do rio de maneira exponencial, a preocupação com o avanço do petróleo cru no ecossistema é redobrada, tendo em vista a importância ecológica das áreas de manguezal.

Força-tarefa

O presidente da Associação Comunitária dos Produtores de Parajuru, Edvan Dantas, relata que uma força-tarefa está sendo desenvolvida para evitar que a mancha de óleo atinja a área do manguezal. “Estamos com medo de entrar no braço do rio, que atende a um projeto de criação de camarão com mais de 63 famílias. Fora os prejuízos ambientais, que serão enormes para todos, pescadores, marisqueiras e criadores”, afirma.

Caso o ecossistema seja invadido pelo óleo, os danos serão graves. “Os mangues têm grande importância ecológica e econômica. São áreas que promovem a sustentação da cadeia trófica, a proteção da linha de costa e podem funcionar como filtro biológico. São áreas de berçário e abrigo para muitas espécies, inclusive aquelas de interesse econômico, além de serem importantes no sequestro de carbono e manutenção do clima global”, explica a doutora em Biologia Marinha, Rafaela Maia.

Ana Paula Lima, coordenadora local de projetos da Fundação Brasil Cidadão, que atua na preservação ambiental em Icapuí, um dos locais atingidos com a mancha de óleo, endossa a importância do ecossistema. “O mangue transforma o CO2 (gás carbônico) em oxigênio, garantindo qualidade de vida para espécies marinhas e para a população humana. Regula o clima, evita erosão e é importante para a cultura produtiva da pesca”, finaliza.

O mangue é fundamental também para outras áreas. “O trabalho é feito em nível local, mas tem uma importância a nível global. O habitat do manguezal acolhe aves migratórias, sobretudo as que vêm dos EUA e do Canadá. Elas migram e se refugiam no manguezal”, Caso o óleo chegue à área do mangue, “as espécies seriam prejudicadas”, lamenta a ambientalista.

Cadeia de desastres

Rafaela Maia, que também coordena o Laboratório Ecomangue, no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará (IFCE), no município de Acaraú, diz que a chegada do óleo desencadeia uma série de prejuízos. “Pode causar fuga e morte de peixes, aves, caranguejos e ostras; ou ainda se acumular nas raízes, sufocando a flora, podendo levar a grande mortandade e comprometer todo o equilíbrio ecossistêmico”. Para evitar a contaminação nessas áreas, “o monitoramento ambiental em Acaraú foi redobrado”, garante.

Para reforçar essa força-tarefa no litoral cearense, o governador Camilo Santana se reuniu, ontem (28), com o capitão dos Portos do Ceará, capitão de mar e guerra Madson Cardoso, e integrantes do grupo de trabalho que acompanham as ocorrências de óleo nas praias cearenses. O grupo anunciou que, hoje, uma nova reunião irá operacionalizar um plano de contenção da foz dos rios Curu e Jaguaribe.

Icapuí

A ambientalista Ana Paula Lima relata preocupação com o avanço da mancha de óleo em sua região, a Leste. “Nós estamos muitos apreensivos com a possibilidade de o óleo adentrar o estuário da Área de Proteção Ambiental da Barra Grande, onde está localizado o manguezal”, explica. A APA abrange cerca de cinco comunidades e seu principal ecossistema é o manguezal.

Para tentar evitar o desastre, a Fundação Brasil Cidadão e pescadores que tiram o sustento do mangue trocam informações constantes para atuar, caso seja observado algum risco mais evidente. “Estamos sempre atentos e em contato com os pescadores para ver se há alguma mancha próxima. É um trabalho de formiguinha. Recuperar mangue não é fácil”, finaliza.

Avanço gradativo

A mancha de óleo vem avançando no litoral cearense de maneira gradativa. Segundo o diretor de Controle e Proteção Ambiental da Superintendência Estadual do Meio Ambiente (Semace), Lincoln Davi, qualquer dos ecossistemas localizados na área litorânea pode ser atingido com a substância. “A poluição é muito dinâmica e, a qualquer momento, (o óleo) pode chegar”, pontua.

Para frear esse avanço que, segundo o último relatório do Ibama, já atinge 254 localidades em 92 municípios do Nordeste, o órgão tentou utilizar barreiras de contenção. Elas são compostas por uma parte flutuante e outra submersa, chamada saia, que tem a função de conter o óleo superficial. No entanto, o poluente que atinge o Nordeste do País se concentra em camada subsuperficial.

Confira matéria do Site Diário do Nordeste

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