Ministro da Justiça, desde o início da crise, se esforçou para manter delegado no comando da Polícia Federal, uma indicação sua para o cargo
O diretor-geral da Polícia Federal, delegado Maurício Valeixo, volta de férias nesta quinta-feira, 19, e continua no cargo, segundo apurou o Estado com fontes a par do assunto. O ministro da Justiça, Sérgio Moro, já teria dado a Valeixo a informação de que ele não será substituído pelo menos por enquanto. Procurado, o ministro disse que não comentará o assunto.
A saída de Valeixo era dada como certa internamente na PF após o presidente Jair Bolsonaro ter declarado, no mês passado, que poderia trocar a direção do órgão. Sua permanência é considerada uma vitória de Moro. O combinado é que ninguém na PF comente mais sobre o assunto, para evitar novas rusgas com o presidente.
O presidente ficou irritado especialmente com a recusa de Valeixo de indicar para a superintendência do Rio de Janeiro o delegado Alexandre Saraiva, atual chefe da unidade do Amazonas, no lugar do delegado Ricardo Saadi.
Os delegados consideram que não é possível haver interferência política nas superintendências da PF. Reunidos em Salvador no final de agosto, eles divulgaram uma carta na qual afirmam: “A Polícia Federal não deve ficar sujeita a declarações polêmicas em meio a demonstrações de força que possam suscitar instabilidades em um órgão de imensa relevância”.
Na ocasião, Bolsonaro afirmou que havia determinado a saída de Saadi por ‘questão de produtividade’. Horas após o anúncio, porém, a PF contradisse o presidente e, em nota, afirmou que a troca já estava planejada e não tinha relação com o trabalho do delegado. Ainda anunciou um outro nome para o cargo, contrariando Bolsonaro.
Desde o início da crise, Moro se esforçou para manter Valeixo, uma indicação sua para o cargo. Eles trabalharam juntos na Lava Jato em Curitiba. Em conversa com Bolsonaro, o ministro chegou a atribuir as polêmicas a uma ‘rede de intrigas’ que atuava para desgastar a relação entre os dois.
Como forma de ‘aparar arestas’ com o presidente, Moro determinou, na semana passada, que a PF apure um suposto direcionamento de investigação ao deputado Helio Lopes (PSL-RJ), aliado do presidente.
O ministro apontou possível fraude na inclusão do nome em um inquérito como meio de tentar voltar o presidente contra Saadi e a cúpula do órgão.
Conforme o Estado revelou, a Polícia Federal suspeita que o delegado Leonardo Tavares, lotado na Delegacia de Repressão a Crimes Previdenciários (Deleprev) no Rio de Janeiro, foi o responsável por tentar direcionar uma investigação previdenciária para um alvo chamado ‘Hélio Negão’, o mesmo apelido usado pelo deputado.
Nos bastidores, o gesto de Moro foi visto como importante para mudar o ambiente e impedir a demissão de Valeixo.
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