Contratadas para a construção das obras da Companhia Siderúrgica do Pecém (CSP), Dongyang Construction e Braco Construtora saíram do País sem pagar por equipamentos e insumos contratados a seis empresas do Estado
A operação da Companhia Siderúrgica do Pecém (CSP) foi iniciada em 2016, passo que foi considerado uma nova página na história da economia do Ceará. Entretanto, a construção do maior empreendimento industrial já instalado no Estado acumula uma dívida de R$ 20,33 milhões com seis empresas cearenses. O débito é das coreanas Dongyang Construction e Braco Construtora, terceirizadas contratadas para as obras da siderúrgica. A vinda delas se deu por contrato com a também coreana Posco Engenharia, subsidiária da Posco Inc – uma das acionistas da CSP, juntamente com Dongkuk e Vale.
Na prática, Dongyang e Braco contrataram serviços de locação de andaimes, maquinário e insumos de construção de empresas cearenses. E, basicamente, metade de todo esse prejuízo, corresponde aos negócios fechados com a cearense Maqloc Locação.
“A Dongyang tinha a maior fatia da obra. Começamos a tratar com eles em abril de 2015 e passamos mais de um ano trabalhando com ela”, diz Elmano Ladeia Júnior, sócio-proprietário da Maqloc, lembrando que os pagamentos foram interrompidos. “No início, a gente ganhou dinheiro, mas em 2016 a Dongyang começou a não nos pagar mais.Além da queda, o coice”, destaca o empresário.
Isso porque, de acordo com ele, além da falta de pagamento pelos serviços prestados, os andaimes, que eram sublocados de uma empresa em Minas Gerais, não foram devolvidos. “A Dongyang colocava a culpa na CSP, porque eles não repassavam verba para a obra mais. A gente foi confiando que o acordo (de pagar) ia ser cumprido e nada foi feito”, diz Ladeia Júnior.
Com as finanças da empresa comprometidas, o empresário ajuizou ação de cobrança na 1ª Vara da Comarca de São Gonçalo do Amarante. De acordo com Ladeia Júnior, em agosto passado, uma audiência foi convocada com o objetivo de chegar a um denominador comum em relação ao caso. Representantes da CSP e da Posco compareceram, mas ninguém da Dongyang esteve na audiência.
Ladeia relata que a empresa voltou para a Coreia do Sul, deixando o débito e, como não pode mais ser localizada, a situação fica paralisada, e a dívida segue pendente. “Quebrou desde o fornecedor de marmita até empresas gigantes”, explica, acrescentando que a Dongyang Construction do Brasil não foi a única empresa que veio da Coreia do Sul ao Brasil e teve problemas com negócios locais durante a construção da CSP.
Desde abril de 2015, a Apodi, que também forneceu insumos para a Dongyang, não recebe o pagamento pelos produtos empenhados nas obras. “A Cimento Apodi forneceu cimento para a Dongyang, porém em 2016, após várias tentativas de negociação, sem êxito, entrou com um processo. A dívida é de R$ 1,8 milhão”, diz a nota da Cimento Apodi. Questionada sobre a situação do processo na Justiça, a empresa respondeu que a ação “está tramitando”, mas “sem novidades”.
Em 2016, o colunista do Diário do Nordeste Egídio Serpa noticiou em seu blog que algumas empresas cearenses temiam um “calote coreano”. Na época, as coreanas alegaram que as constantes greves na obra teriam elevado os custos, impactando no pagamento aos cearenses.
Representante de uma das empresas também com pagamentos a receber (de outra coreana, a Braco) que preferiu não se identificar contesta a justificativa e lembra da época das greves, situação que rendeu uma série de ações judiciais contra as coreanas.
“Definitivamente, não era o problema. Essas empresas tinham muito dinheiro”, diz ele. O débito com o negócio em questão soma algo em torno de R$ 2,5 milhões e também foi aberto um processo judicial contra a empresa em São Gonçalo. “O prejuízo é referente a locação de equipamentos. Conseguimos entrar com uma reintegração de posse e recuperamos os equipamentos, mas o débito está pendente”, lamenta.
Contatos no Ceará
A reportagem buscou contato com a Dongyang Construction do Brasil Construtora Ltda, mas até o fechamento desta matéria não obteve resposta. Informações obtidas na Junta Comercial do Ceará e na Receita Federal indicam que o Cadastro Nacional Pessoa Jurídica (CNPJ) da Dongyang no Brasil continua ativo. O Diário do Nordeste foi até o endereço vinculado ao CNPJ da Dongyang, mas, ao chegar ao local, foi informado de que a empresa não aluga o espaço há pelo menos dois anos.
Procurada, a CSP respondeu que “posiciona-se apenas sobre a própria empresa, não tendo ingerência ou responsabilidade pelas relações comerciais de seus parceiros com seus respectivos fornecedores”. A siderúrgica informou ainda que “a empresa citada não mantém relações comerciais com a CSP atualmente”. “A CSP reforça o compromisso de produzir aço de forma segura e sustentável, tendo a ética como um valor para o relacionamento com fornecedores”, diz a nota da companhia.
Mais dívidas
A Braco é ré em ação movida na Justiça pela empresa Fornecedora Máquinas. Conforme o diretor administrativo-financeiro do negócio, Pablo Leão, foram prestados serviços de logística, engenharia e terraplanagem à coreana na época das obras da CSP. “Foi ajuizada uma ação monitória em setembro de 2015, na 26ª Vara Cível na Comarca de Fortaleza”, diz. O valor da dívida atualizado chega a R$ 463.500.
A Fornecedora Máquinas também possui um débito pendente da Dongyang. “Foi um débito pequeno, de R$ 16 mil”, afirma Leão, acrescentando ainda as lembranças do momento difícil para manter as finanças da empresa sob controle. “Constituímos empréstimos para pagar nossas obrigações, passamos por um aperto grande”.
À Cordeiro Guindastes, a Dongyang deixou uma dívida que acumula R$ 300 mil, considerados os juros. O último pagamento foi em 2016. Com a Braco, o débito chega a R$ 1,4 milhão e se arrasta desde 2014, de acordo com o diretor financeiro do grupo, Alfredo Cordeiro. “Todas as nossas dívidas estão na Justiça, em varas tanto em São Gonçalo do Amarante como em Fortaleza”, diz ele.
Além das duas empresas, outras coreanas têm dívidas com a Cordeiro Guindastes. De algumas delas, a Cordeiro conseguiu receber pagamentos após ingressar na Justiça.
Assim como a Maqloc, a Magna Locações também sofreu com a falta de pagamentos e com a perda de equipamentos. A Dongyang deixou uma dívida de mais de R$ 2,3 milhões, enquanto a Braco ficou com uma inadimplência de R$ 1,5 milhão em uma situação que também se arrasta, pelo menos, desde 2013. Desde 2012, a Magna tinha um contrato com a Dongyang. “Temos dois processos contra eles que estão parados, porque eles não estão mais no Brasil e a gente não consegue fazer a citação deles”.
Ele explica que outras empresas chegaram e pedir a falência da Dongyang, mas que isso não faz efeito justamente porque não há patrimônio no País. “O juiz não tem o que executar, porque não há mais conta da empresa, não há mais dinheiro, não há nada”, explica Davi Gaspar, advogado da Magna Locações.
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