Carlos Newton
Fala-se muito que a política brasileira, ao seguir o que seria uma tendência internacional, teria mergulhado no perigoso caminho da polarização e da radicalização entre direita e esquerda, deixando em segundo plano as lideranças de centro. Diz-se também que isso seria um fenômeno normal e facilmente justificável, porque, quando os políticos de centro fracassam no poder, é óbvio que imediatamente se abra a porteira para os extremos, não há a menor dúvida a respeito. Mas o quadro da política brasileira não é tão simples assim.
Muito pelo contrário, é complicadíssimo, um verdadeiro desafio aos analistas, já que ninguém consegue explicar o que realmente está acontecendo. Por isso, a primeira providência para entender a política brasileira é alinhar o que são fatos concretos, para evitar raciocínios sobre suposições.
FASE DELICADÍSSIMA – A primeira constatação inquestionável é que a política brasileira vive uma fase delicadíssima, que precisa ser superada com maturidade e profissionalismo, para evitar novo risco de retrocesso institucional, pois a crise econômica não vai ceder, a dívida pública é uma bomba-relógio e o país não tem um líder capaz de dizer que só pode nos oferecer “sangue, suor e lágrimas”, para nos levar à vitória.
PARTIDOS INEXISTENTES – Outra constatação é que no Brasil não há grandes partidos ideológicos, o que existe são apenas ajuntamentos fisiológicos e nepotistas, que passam mandatos de pai para filhos e não se encaixam em padrões normais. Ou será que ainda existe alguém que considere o PT como um partido de esquerda? Ou o PSDB como uma legenda social-democrata?
O QUE ESTÁ EM DISPUTA? – Dizer que está havendo uma disputa no Brasil entre direita e esquerda é outra suposição que chega a ser ridícula. O que há é um enfrentamento entre as forças institucionais que tentam enfrentar a corrupção generalizada e as facções que buscam a impunidade das elites, a pretexto de evitar a “criminalização” da política, expressão criada pelo ministro Gilmar Mendes (ele, sempre ele).
O CONFRONTO É NO STF – Sabe-se que a luta se trava nos três Poderes, mas quem decide é o Supremo, que terá de julgar a constitucionalidade de vários temas: 1) O inquérito aberto para imobilizar os órgãos fiscalizatórios Coaf, Banco Central e Receita; 2) A blindagem de ministros, suas mulheres e tutti quanti; 3) A anulação dos julgamentos de Moro, incluindo a condenação de Lula; 4) A Lei do Abuso de Autoridade etc.
FATOS CONCRETOS – Conforme destacamos, é preciso raciocinar sobre os fatos concretos, porque a política está obscurecida por um manto de cinismo. Os ministros Gilmar Mendes e Dias Toffoli, que lideram o combate à Lava Jato, alegam que sua intenção é garantir a Justiça e a ampla defesa. Pode haver cinismo maior?
O presidente Jair Bolsonaro claramente se aliou a Toffoli nessa guerra, sob o tosco argumento de que é preciso evitar excessos e perseguições políticas, mas seu real objetivo é proteger o filho Flávio, o ex-assessor Queiroz e a própria família, todos sabem disso, não engana ninguém.
E o Congresso embarca na mesma onda, empenhado em embarreirar a Lava Jato e evitar a tal “criminalização” da política inventada por Gilmar Mendes, que é uma versão jurídica do satânico Doutor No.
Bem, esse é o quadro sinistro da política brasileira, sob a ótica exclusiva de fatos concretos, que são escondidos por cinismos e manipulações.
P.S. 1 – Por tudo isso, pode-se dizer que o futuro do país depende hoje do Supremo, que vive o pior momento desde sua criação, em 1891, sob a batuta de Ruy Barbosa.
P.S. 2 – A propósito: você conhece alguém que realmente confie no Supremo? Antes não era assim… (C.N.)
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