Cartão postal da praia mais badalada do Estado, a duna, que tinha 60 metros de altura nos anos 1980, agora está com apenas 30 metros. Especialistas alertam que, sem medidas de preservação, a duna pode se extinguir já na próxima década
Tão icônica quanto Jericoacoara, é a Duna do Pôr do Sol da praia conhecida nacionalmente. O espetáculo da natureza visto do alto da faixa de areia é responsável por atrair, todos os dias, centenas de turistas que se acomodam na praia para observar o sol sumir lentamente em meio ao mar. No entanto, quem tem o privilégio de acompanhar essa cena com maior frequência atesta que a duna já não é mais a mesma de outrora.
“Minha lua de mel foi aqui, há 15 anos. Retornei neste ano para comemorar as Bodas de Cristal e notei que ela está bem menor”, observa a paraibana Camila Calixto. A percepção da nutricionista tem fundamento.
Na década de 1980, a Duna do Pôr do Sol, que já foi considerada uma das mais charmosas e altas do Ceará, tinha cerca de 60 metros. Hoje, essa altura está reduzida à metade. Até mesmo quem só viu o famoso cartão postal através de fotos, identifica: a duna está sendo degradada e vem diminuindo ano a ano.
O coordenador de cartório Cândido Oliveira Filho trouxe a família de São Paulo para conhecer o “paraíso”, como ele classifica a Praia de Jericoacoara. “Amigos que já tinham visitado Jeri me indicaram e depois eu fui pesquisar na internet. Vi várias fotos, lindas por sinal, e decidi vir com a toda a família. O local é encantador, um paraíso, mesmo que a duna esteja bem menor do que a gente observou pelas fotos da internet”, descreve o turista paulista.
De acordo o técnico da Superintendência Estadual do Meio Ambiente (Semace) e doutorando na Universidade Estadual do Ceará (Uece), Gustavo Gurgel, a duna “está perdendo cerca de 6% de seu volume e da sua área por ano”. O número é ainda mais alarmante quando se percebe o aumento dessa redução. “Somente no último ano, a Duna já perdeu quase cinco metros de altura e mais de 1.200 metros quadrados de seu volume”, diz o pesquisador.
Diante do atual nível de erosão e degradação da duna, Gustavo é enfático em afirmar que “se nenhuma medida efetiva for adotada rapidamente, a Duna vai desaparecer”.
Causas
Pesquisas da Universidade Federal do Ceará (UFC) apontam que a notável migração da Duna do Pôr do Sol, em Jericoacoara, foi incrementada a partir de 2001, “possivelmente estando relacionada aos impactos do homem, que interage com a dinâmica dos ventos e o aumento da temperatura global”. Gustavo Gurgel explica que, ao longo dos últimos anos, os corredores de ação eólica, os quais são responsáveis por alimentar as dunas, “perderam suas funções”.
O estudioso reitera que os “corredores não conseguem mais levar a quantidade de areia necessária para garantir a manutenção da faixa. Desta forma, não está havendo alimentação da duna”.
Providências
Diante deste cenário considerado “preocupante”, a Semace está realizando um estudo na área para viabilizar um plano de manejo na unidade ambiental. Gurgel revela a intenção de implantar técnicas de manejos ambientais em Jericoacoara, para, assim, “reativar as funções dos corredores eólicos, possibilitando a eles novamente atuarem”.
Para além destas intervenções, o especialista adverte haver uma imediata necessidade de controlar o acesso à duna. Ele não menciona, no entanto, a “limitação de turistas”, mas a criação de uma área limite até aonde os visitantes poderiam se aproximar. “Não é restringir o acesso, isso não é necessário neste primeiro momento, mas melhorar a visitação. Quando o sol se põe, muitos turistas descem a duna por uma faixa onde acelera, ainda mais, o processo de degradação. Essa areia é jogada ao mar dia após dia. Então, se houver um direcionamento, um trabalho de educação ambiental, somado às técnicas de manejo, poderemos, sim, reverter esse processo de erosão que avança a passos largos”, explica Gustavo.
Ainda segundo ele, com todas essas propostas sendo executadas, a previsão é de que, já no primeiro ano após a instalação, a Duna do Pôr do Sol deixe de erodir e, a partir do segundo ano, estima-se que os corredores eólicos já consigam garantir mais sedimentação do que erosão.
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