Negociação bilionária agita mercado de lenços e papel higiênico no Brasil

Em 2018, a produção nacional de papel tissue foi recorde: 1,35 milhão de toneladas, viabilizada pelo forte crescimento na capacidade de produção do setor ocorrido no ano passado. As vendas ao mercado doméstico também subiram: 6,2%.| Foto: Albari Rosa/Gazeta do Povo

A compra da empresa paranaense SEPAC, proprietária das marcas Duetto, Paloma, Stylus e Maxim, pela multinacional chilena CMPC no início desta semana marcou o começo de uma nova fase do setor de produção de papel para fins sanitários no Brasil. O consumo desse tipo de material, conhecido como tissue, utilizado na fabricação de papel higiênico, fraldas descartáveis, papel toalha e lenços, entre outros, vem crescendo no Brasil e no mundo.

A aquisição da SEPAC por R$ 1,3 bilhão pela Softys, subsidiária da CMPC que opera no Brasil desde 2009 com as marcas Elite e Sublime, aponta para uma tendência de afunilamento do setor, com previsão de novas fusões e aquisições. Atualmente, o setor é bastante fragmentado, com empresas como a paranaense Milli e a paulista Suzano abocanhando cada uma pouco mais de 10% do mercado. A Softys/SEPAC garantirá à empresa chilena 20% de participação no Brasil, conforme expectativa do gerente geral da Softys, Gonzalo Darraidou.

“Por enquanto, nossa prioridade é concluir todo o processo de aquisição da SEPAC e, depois, integrá-la às operações da Softys Brasil. Estamos sempre atentos às oportunidades de crescimento que surgem, mas no momento nossa prioridade é com a SEPAC”, disse Darraidou, em entrevista por e-mail. Segundo ele, a tendência é que as marcas da fabricante paranaense – sediada no município de Mallet – serão mantidas. “Acreditamos que um dos ativos da SEPAC é representado por suas marcas.”

Para o presidente da Associação Nacional dos Aparistas de Papel (ANAP) e diretor da Anguti Estatística, Pedro Vilas Boas, há uma tendência de concentração nesse mercado de papel tissue, o que não é necessariamente ruim. “Vamos ter mais fusões e compras, porque o Brasil está ‘barato’ para as empresas estrangeiras. O que pode ser bom, porque as pequenas e médias empresas têm problemas de relacionamento com os supermercados, por exemplo, que são mais fortes hoje. Com as aquisições, a tendência é que esse jogo fique mais equilibrado”, afirma.

Atualmente, segundo Vilas Boas, existem cerca de 61 fabricantes de papel tissue no Brasil. A maior concentração de fábricas está no Sul do país e a maior parte da produção está em São Paulo, Santa Catarina e Paraná, que representam 70% do mercado nacional. “A CMPC, que já é líder de mercado de papel tissue na América Latina, agora passa a ser líder também no Brasil”, constata Vilas Boas. A transação ainda precisa ser aprovada pelo Cade.

De acordo com Gonzalo Darraidou, no caso da SEPAC, em termos operacionais a ideia é continuar comprando a matéria prima para o tissue localmente, privilegiando as melhores alternativas de preço e fornecimento. A Softys possui uma fábrica de celulose em Guaíba (RS), ampliando agora a capacidade de atendimento das regiões Sul e Sudeste do país. “Levantamos em várias ocasiões nosso interesse em continuar nosso desenvolvimento no Brasil, tanto na produção de celulose quanto no negócio de tissue, como estamos demonstrando agora, com a aquisição da SEPAC”, afirmou o gerente geral da Softys.

“Uma das vantagens da SEPAC Mallet é que ela possui tecnologia de ponta e excelentes níveis de eficiência em sua produção, portanto, não serão necessários ajustes significativos em sua operação”, disse Darraidou. Segundo ele, também serão mantidos os executivos e funcionários da fábrica da SEPAC no Paraná.

Desenvolvimento socioeconômico

A expansão do setor reflete, em parte, o desenvolvimento socioeconômico do país, e o ritmo deve seguir crescendo nos próximos anos. Atualmente, segundo Vilas Boas, o Brasil consome 6,5 kg de papel tissue por pessoa/ano, mas em países como os Estados Unidos o consumo é superior a 25 kg per capita/ano, conforme demonstra um relatório do Banco BTG Pactual.

Conforme relatório da Angusti, a produção total de papéis de fins sanitários no Brasil atingiu, em dezembro, o volume de 114,9 mil toneladas, um crescimento de 3,4% em relação ao mesmo mês de 2017. Em 2018, a produção nacional desse tipo de papel foi recorde: 1,35 milhão de toneladas, viabilizada pelo forte crescimento na capacidade de produção do setor ocorrido no ano passado. As vendas ao mercado doméstico também subiram: 6,2%.

Gonzalo Darraidou, gerente geral da Softys, diz que a prioridade da empresa, controlada pela chilena CMPC, é continuar expandindo suas operações no Brasil.| Softys/Divulgação

“Há no Brasil, por exemplo, uma migração para o papel higiênico de folha dupla, um reflexo da melhora econômica da população. O papel higiênico hoje representa 75% do mercado de tissue, depois vêm as toalhas multiuso e os guardanapos”, revela Vilas Boas. Como se trata de um produto muito leve, os custos logísticos para exportá-los são altos, o que acaba forçando a indústria a trabalhar fortemente no mercado interno.

No entanto, um relatório do Banco BTG Pactual de 6 de agosto informa que as marcas produzidas pela SEPAC também são exportadas para alguns mercados da América do Sul, mas, segundo o banco, a estratégia da Softys com a aquisição é reforçar sua presença no mercado nacional. “A transação assim amplia a cobertura geográfica da CMPC no Brasil de São Paulo para outras regiões. Em linha com a estratégia de crescimento em mercados de alto potencial. A gerência já havia indicado ao mercado que enxergam oportunidades no Brasil onde o mercado de tissue está fragmentado e em expansão, com consolidação oportunidades”, diz um trecho do relatório.

Fundada em 1974 pelo empresário João Ferreira Dias, a SEPAC é responsável pela produção de dois terços do papel tissue fabricado no estado e tem uma previsão de venda para este ano, segundo dados da assessoria de imprensa, de US$ 200 milhões. Procurada pela reportagem, a SEPAC não quis se manifestar sobre a venda das operações à Softys.

Confira matéria do site Gazeta do Povo.

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