Analistas apontam que o cenário da economia justifica o corte de 0,5 ponto, e preveem novo corte já na próxima reunião, em setembro.
O comunicado em que o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central anunciou o corte da taxa Selic nesta quarta-feira (31) deixou a “porta aberta” para novos cortes dos juros, embora sem deixar claro o ritmo em que isso deve acontecer. Essa é a avaliação de analistas ouvidos pelo G1 após a decisão, que baixou a taxa básica de juros da economia para 6% ao ano, o menor patamar da série histórica do Banco Central, que começou em 1986.
Na justificativa para o corte, o Copom apontou um cenário externo benigno, com corte de juros nas principais economias, a perspectiva de retomada gradual da atividade econômica e o nível de inflação considerado confortável. Citou ainda o andamento das reformas econômicas, após a aprovação da reforma da Previdência em 1º turno na Câmara.
“O Copom reitera que a conjuntura econômica prescreve política monetária estimulativa, ou seja, com taxas de juros abaixo da taxa estrutural”, diz o texto.
Para a economista-chefe da Rosenberg Associados, Thaís Zara, o Copom teve certa cautela no comunicado “ao sinalizar um novo corte não necessariamente na próxima reunião, mas deixou realmente a porta aberta” para mais redução de juros.
Mesmo sem a indicação clara, Zara espera redução já na reunião de setembro, de mais 0,5 ponto percentual. “Se a gente tiver uma evolução benigna da reforma da Previdência na Câmara e no Senado, e com o cenário externo continuando a se mostrar benigno, sim, provavelmente vai ter mais um corte em torno de 0,5 na reunião de setembro.”
A economista da Mongeral Aegon Investimentos, Patricia Pereira, também acredita que, para a próxima reunião, o BC deve cortar a Selic em mais 0,5 ponto percentual. “Se o cenário caminhar como o esperado, deve ocorre uma nova queda de juros”, afirma.
Para a economista-chefe da Tendências, Alessandra Ribeiro, um corte de 0,5 ponto percentual é “bastante provável” para a reunião de setembro. “Agora é o que vem em outubro, se outro corte de 0,5 ou de 0,25. Vai depender da evolução do cenário doméstico e já vamos ter mais clareza quanto à reforma.”
Também prevendo um novo corte de 0,50 ponto percentual, o economista da XP Investimentos Marcos Ross, diz que “o BC está vendo uma possível retomada da econômica e vê espaço de ajudar, então um estímulo pode ser adequado”.
A economista-chefe da Gauss Capital, Gabriela Fernandes, afirma que a expectativa é de, pelo menos, mais um corte de juros. “O BC dá a entender que há espaço para novos ajustes de política monetária”, afirma. “Dá entender que, pelo menos, mais um corte de juros deve acontecer. É isso que o mercado deve esperar.”
Tamanho do corte
A redução de 0,5 ponto percentual veio de acordo com o que esperava parte do mercado, enquanto outros analistas projetavam queda de 0,25 ponto. De qualquer maneira, economistas concordam que havia espaço para o corte maior.
“A gente imaginava um corte de 0,25, até pela comunicação bastante cautelosa que o Copom sempre adotou. Mas, sim, havia espaço para um corte mais agressivo de 0,5”, diz Zara.
A consultoria Tendências esperava um corte de 0,25 ponto percentual nesta reunião e nas próximas. “O movimento começou mais agressivo, surpreendeu”, diz Ribeiro, destacando o cenário externo entre os fatores que justificaram um corte maior.
“Antes o Banco Central estava mais cauteloso quanto ao cenário externo. A queda dos juros nos EUA também ajudou. Ainda que o [Jerome] Powell tenha sinalizado que o Fed não vai entrar em um ciclo de redução de juros, não deixou de ter uma queda”, disse.
A XP Investimentos também previa um corte de 0,25 ponto percentual, mas avalia que o corte de 0,50 ponto não surpreendeu. “Desde a última ata, o cenário foi mudando e mostrando que um corte maior era possível”, diz Ross.
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