Porto Rico à deriva

Ricky Martin durante manifestação em Porto Rico — Foto: Eric Rojas/AFP

Falta de sucessores capacitados torna complexa solução de crise política em território americano, após a queda do governador Ricardo Rosselló por insultar eleitores em conversas com colaboradores.

A pé, em caiaques, jet-skis ou a cavalo, dançando ou em posições de ioga, um terço da população de Porto Rico forçou a renúncia do governador Ricardo Rosselló depois da publicação de quase mil páginas de conversa pelo Telegram, em que ele e seus colaboradores insultavam eleitores. Tirar Ricky do governo foi considerado um feito por conseguir unir uma sociedade tradicionalmente dividida. Mais complexa, por falta de candidatos capacitados, é a escolha de seu sucessor.

O ex-secretário de Estado Luis Rivera Marín seria o substituto natural do governador, que já cumpriu mais da metade do mandato de quatro anos. Mas ele também renunciou, por estar envolvido nas mensagens que ofendiam do cantor Ricky Martin às vítimas do furacão Maria.
Bola da vez na linha da sucessão, a secretária de Justiça, Wanda Vázquez, declarou que não quer o cargo. Criticada por não ter investigado a corrupção dentro no Novo Partido Progressista, ela é pressionada nas redes sociais pela hashtag #renuncieWanda.

Como declarou María de Lourdes Santiago, vice-presidente o Partido da Independência de Porto Rico, substituir Ricky por Wanda “é como ser curado de dengue para pegar chikungunya.”

O ex-governador de Porto Rico, Ricardo Rosselló. — Foto: Carlos Giusti/AP
O ex-governador de Porto Rico, Ricardo Rosselló. — Foto: Carlos Giusti/AP

O próximo da fila seria então o secretário do Tesouro, Francisco Parés, mas, por ter 31 anos, está impossibilitado de assumir o emprego, já que a Constituição determina idade mínima de 35. Sobrou o secretário interino da Educação, Eligio Hernández, que ocupa o cargo desde abril, no lugar da ex-secretária Julia Keleher, presa por corrupção.

É este o cenário que ilustra o caos político de Porto Rico, ex-colônia espanhola que desde 1898 pertence aos EUA, sob o status de Estado Livre Associado. Dos 3,2 milhões de habitantes, mais de 40% vivem abaixo da linha da pobreza. Ao assumir, em 2017, Rosselló declarou falência, mas a penúria e a recessão foram reforçadas em setembro, após a passagem do furacão Maria, que devastou o território.

A catástrofe expôs como a infraestrutura da ilha era negligenciada e também revelou a indiferença do governo Trump. A começar pelos dados divergentes entre o número de mortos — 64 para o governo e 2.975, segundo um estudo da Universidade George Washington.
A lentidão na chegada da ajuda, os desvios de verbas, a política de austeridade e a autonomia limitada pelo Congresso americano fizeram borbulhar o caldeirão de frustrações entre os porto-riquenhos.

A divulgação das mensagens, com conteúdos homofóbicos e misóginos entre Rosselló e colaboradores, foi a gota d’água. Mas, agora, a euforia deflagrada pela vitória dos protestos que levaram à queda do governador cede novamente passagem aos velhos problemas de Porto Rico. E também à incerteza de quem vai assumir, depois de sexta-feira, o timão do território à deriva.

Confira matéria do site G1.

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