Boris Johnson assume como premiê e diz que brexit sem acordo é possibilidade remota

Deputado conservador recebe da rainha Elizabeth 2ª tarefa de montar novo governo do país

O novo primeiro-ministro do Reino Unido, Boris Johnson, disse nesta quarta (24) que a saída do país da União Europeia sem acordo entre as partes é uma possibilidade remota.

Reiterou, porém, que o desligamento vai se concretizar até 31 de outubro deste ano, sem “se” ou “mas”, insistindo em sua promessa de campanha –um brexit “do or die” nessa data, ou seja, doa a quem doer.

No primeiro discurso após receber da rainha Elizabeth 2ª a incumbência de formar um governo, o líder conservador afirmou que não deseja um “no deal” (separação sem pacto, o que significaria uma mudança no status da relação entre Londres e Europa da noite para o dia, sem fase de transição).

Boris Johnson em audiência com a rainha Elizabeth, na qual ela o convidou a formar um novo governo – Victoria Jones/AFP

Disse acreditar que seja possível alcançar um entendimento que não envolva controles alfandegários na fronteira irlandesa —a do Norte é parte do Reino Unido, a República (ao sul), país-membro da UE.

Isso, desde que a solução não passe pelo “antidemocrático backstop”, o mecanismo que prevê a criação de uma grande união aduaneira temporária para evitar checagens de mercadorias entre sul e norte.

Ninguém quer a volta da fronteira “dura” na ilha, uma das fagulhas de um conflito entre nacionalistas (pró-reunificação das Irlandas) e unionistas (favoráveis à permanência do Norte do Reino Unido) que deixou mais de 3.500 mortos de 1968 a 1998.

O “backstop” é a principal razão (ao menos oficial) para o acordo fechado pela antecessora de Johnson, Theresa May, ter sido recusado três vezes pelo Parlamento britânico, deixando a chefe de governo sem alternativa que não a de renunciar ao cargo.

Os críticos da medida argumentam que ela ataria o Reino Unido ao bloco europeu por tempo indeterminado, comprometendo sua soberania –é fato que, dentro da união aduaneira, Londres não poderia fechar acordos comerciais por conta própria.

A UE tem dito repetidamente, e novamente após a vitória de Johnson, que o dispositivo não será abandonado.

A trajetória de Boris Johnson

A trajetória de Boris Johnson

O brexit deveria ter acontecido no fim de março deste ano. Como May não conseguia convencer seus deputados a endossar o pacto acertado com o bloco europeu, foi adiado por algumas semanas, e mais tarde, por alguns meses.

“Vamos fazer um novo acordo, um acordo melhor que vai ampliar as oportunidades do brexit ao mesmo tempo em que vai nos permitir desenvolver uma relação nova e estimulante com o resto da Europa, com base em livre-comércio e apoio mútuo”, afirmou Johnson.

Segundo ele, “chegou a hora de agir, de tomar decisões, de fornecer uma liderança firme”. Foi uma estocada em sua antecessora, tida por opositores e mesmo correligionários como insegura e demasiado propensa a buscar consensos impossíveis.

Em outro momento, o novo premiê disse que “o problema dos últimos três anos [período transcorrido desde o plebiscito que determinou a saída da UE e também tempo que May passou no cargo] não foram as decisões tomadas, mas a falta delas”.

Fazendo um aceno aos partidários do brexit, Johnson acrescentou que, “em caso de ‘no deal’, teremos uma injeção de recursos de 39 milhões de libras”. Ele se refere à multa que Londres deveria pagar ao bloco do qual tenta se desvencilhar, se houvesse um acordo (e um “acerto de contas”) antes da despedida.

Johnson também foi alvo de um pequeno protesto quando estava se dirigindo para o encontro com a rainha. Um grupo formado por meia dúzia de manifestantes que pedia medidas contra a mudança climática fechou a via pela qual o comboio do novo premiê passava, mas o ato foi rapidamente dispersado pela segurança.

No trecho de sua fala dedicado a temas que não o desligamento britânico da UE, o novo chefe de governo afirmou que irá contratar 20 mil policiais, aumentar os recursos destinados à educação básica e aliviar a carga tributária para estimular investimento e inovação.

Mas não deu detalhes de nenhuma dessas iniciativas. Preferiu o otimismo genérico que caracterizou sua campanha: “Não vou dizer que não vá haver dificuldades pela frente, mas, com energia e determinação, elas serão menos sérias”.

E emendou: “Quem apostar contra o Reino Unido vai perder tudo”.

Confira matéria da Folha de São Paulo.

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