Uma luz amarela se acendeu no mercado internacional após a maior companhia química do mundo anunciar que terá lucros 30% menores neste ano. Em 2018, o Ebit (Lucro Antes de Juros e Impostos) da Basf já havia sido 17% menor, atingindo 6,4 bilhões de euros.
A retração para 2019 era esperada, mas não no percentual anunciado pela empresa alemã. A Basf atribuiu o mau desempenho à desaceleração da demanda nos setores de automóveis e agroquímicos, além da instabilidade provocada pela guerra comercial entre Estados Unidos e China, as tensões com o Irã e o conturbado processo do Brexit (saída do Reino Unido da União Europeia).
Em nota, a Basf disse que a queda no Ebit se deve “principalmente por questões envolvendo conflitos comerciais”. As tensões entre os EUA e a China não diminuíram como era esperado, atrasando o processo de tomada de decisões e investimentos em mercados importantes, incluindo a própria China. A companhia alemã não vê perspectiva de melhoras para o segundo semestre de 2019.
O valor das ações da fabricante de plásticos, pesticidas e aditivos para automóveis caiu 6,5%, arrastando para baixo também os papéis de concorrentes como Lanxess AG e Covestro AG. O índice STOXX Europe 600, que reúne 600 empresas de 18 países europeus, caiu 0,7%, registrou queda em 17 de 19 subsetores, incluindo automóveis, com desempenho pior do que o setor de químicos.
Uma fonte de problemas é a economia alemã, que responde por 11% das receitas da Basf. Os pedidos no mercado doméstico alemão desabaram no mês de maio – o sinal mais recente de que as incertezas no comércio global estão empurrando a economia europeia para uma desaceleração mais séria.
Duas semanas atrás, a Daimler AG, dona da marca Mercedes-Benz, cortou sua projeção de lucros pela terceira vez no ano. Os analistas do DZ Bank preveem que as coisas ainda vão piorar. Nesta semana, o Deutsche Bank anunciou a demissão de 18 mil funcionários em suas operações globais.
Setores chave em sérios problemas
“Chegamos ao ponto em que dá para concluir que será muito difícil para a economia da Alemanha evitar uma recessão”, diz Knud Hinkel, analista da Pareto Securities, com base na Noruega. “Dois setores industriais que são chave para a economia alemã – automóveis e químicos – estão em sérios problemas agora”.
Segundo Andreas Scheuerle, economista do Dekabank, países com perfil exportador, como a Alemanha, têm sofrido mais com as incertezas no front político e comercial provocadas pelo Brexit e pelas tensões crescentes entre os EUA e o Irã.
A Basf é apenas o mais recente exemplo no setor químico – que atende a milhares de indústrias na economia global – a emitir sinais indicativos de fraqueza da economia. O fabricante alemão de lubrificantes Fuchs Petrolub e a indústria química americana H.B. Fuller já haviam sinalizado anteriormente diminuição da demanda.
A produção global de automóveis caiu 6% no primeiro semestre, segundo a Basf, e quase o dobro disso na China, o maior mercado mundial para veículos. Situação climática adversa tem castigado o setor agrícola dos EUA, levando a uma menor demanda por agroquímicos. As vendas de defensivos caíram em 2019, quando a expectativa anterior era de alta de 1% a 5%. A Basf deverá cortar cerca de 6.000 empregos até o final do ano que vem.
Os investidores internacionais, a esta altura, já esperavam por uma melhora na guerra comercial – diz Sonia Meskin, economista do Standard Chartered Bank. Para Meskin, a situação terá um grande impacto na Basf, devido à sua maior exposição internacional, do que em companhias americanas focadas no mercado doméstico. “Os assuntos à mesa são tão intricados que parece que vão permanecer por algum tempo”, observa. “As partes envolvidas no conflito terão de fazer esforços consistentes e muito bem articulados para chegar a uma solução, e isso não parece ser provável de acontecer no curto prazo”.
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