Hora do balanço: os seis meses de Bolsonaro

O presidente Jair Bolsonaro coordena a 15ª Reunião do Conselho de Governo, no Palácio do Planalto.| Foto: Marcos Corrêa/PR

A eleição de Bolsonaro criou uma forte expectativa na população brasileira de que a era petista – com seu projeto deletério de poder, que incluía o aparelhamento das instituições, o crescimento desordenado do Estado sobre a vida da sociedade, as políticas econômicas desastrosas, os empréstimos vultosos e inexplicáveis a companheiros ideológicos de outros países e a corrupção desenfreada – chegaria ao fim.

Ao acompanhar os fatos destes primeiros seis meses, é inegável que a ruptura com a forma anterior de governar efetivamente aconteceu, atendendo em boa medida os anseios dos brasileiros.

Para combater a corrupção e o inchaço estatal, os ministérios foram diminuídos e escolhidos na sua maioria, bem ou mal, a partir de critérios mais técnicos, e não para conseguir base de apoio no Congresso; várias medidas foram tomadas para o combate a fraudes; e o apoio a operações anticorrupção, como a Lava Jato, tem se mostrado irrestrito.

Também são de se louvar as medidas de abertura econômica que o governo adotou. Bolsonaro tem editado medidas provisórias e decretos para desburocratizar a atividade econômica e aumentar a participação internacional do Brasil nos negócios. A maior vitória nesse sentido é a conclusão do acordo de livre mercado assinado entre Mercosul e União Europeia que, apesar de ainda precisar de aprovação do Congresso e de levar alguns anos para ser consolidado, prenuncia um período de maior desenvolvimento para o país.

A população brasileira nutre uma grande esperança de que o processo de mudança iniciado com sua eleição avance

Outro ponto a ser considerado é a mudança de valores do governo, tanto interna como externamente. Bolsonaro manteve o seu compromisso de campanha em defender valores conservadores. Além disso, contrariou abertamente a linha terceiro-mundista, restritiva, do Partido dos Trabalhadores.

Estas características foram as linhas mestras de seu governo até aqui: realinhamento de valores, abertura econômica e espaço para propostas de combate à violência e à corrupção. Em muitos desses campos, a razoabilidade de algumas medidas e a efetividade delas podem e devem ser questionadas. Mas levando em conta a situação calamitosa em que o Brasil se encontrava, o presidente conseguiu avanços significativos nessas áreas.

É notável, ainda, o sucesso que alguns ministérios estão tendo em suas pastas. O Ministério da Infraestrutura, num trabalho consistente e estruturado, tem concluído muitas obras que podem destravar gargalos da economia brasileira. Outros ministérios também vêm realizando bons trabalhos, indicando que muitos dos nomes escolhidos por Bolsonaro foram acertados.

Entretanto, em vários momentos do passado semestre, a inexperiência coletiva da “nova administração” ficou patente. Inexperiência que, levando-se tudo em conta, pode-se traduzir, nas questões essenciais, no que se poderia chamar de capacidade de execução, que está permanentemente em teste, necessitando ser provada. Há uma percepção de que o pano de fundo do governo, suas linhas e diretrizes gerais correspondem às expectativas do eleitorado, mas a capacidade de defini-las mediante projetos claros e a capacidade de executá-las com celeridade estão aquém do esperado.
Bolsonaro, em inúmeras situações foi obrigado “a voltar atrás”, por fazer proposições irrefletidas, sem o necessário estudo ou embasamento. Certamente, as flutuações do mercado externo e interno não ficam imunes a esses vaivéns. Acrescenta-se a isso a falta de refinamento no papel de líder, com dificuldade de arbitrar com serenidade atritos entre membros do governo – por vezes alimentando-os de forma irrefletida –, ou “fritando” subordinados em público, bem como mostrando dificuldade em compreender o significado valioso da coordenação de negociações políticas legítimas (inevitável diante da saudável pluralidade de ideias que se encontram numa sociedade complexa, e que não se confunde com fisiologismo ou tratativas espúrias).

Mesmo apresentando essas limitações, não se pode afirmar que o presidente de hoje é igual àquele que iniciou o governo. Bolsonaro tem demonstrado capacidade de aprendizado. O próprio fato de voltar atrás com frequência, se de um lado denota irreflexão, por outro revela uma humildade e simplicidade que não são desprezíveis. No campo da articulação política, deu passos importantes, ainda que não decisivos, para melhorar a relação com o Legislativo. A reforma da Previdência, ponto capital para o sucesso de seu mandato, é prova disso. Além disso, o próprio diálogo com a imprensa melhorou, convidando frequentemente representantes de vários veículos de comunicação para cafés da manhã no Palácio do Planalto.

Bolsonaro parece ter compreendido que o papel da Presidência em uma democracia não é a de um comandante central que simplesmente despacha ordens de seu gabinete. E aos poucos está se adaptando às exigências do cargo, embora muitos desejariam, de forma não irrazoável, que isso se desse num ritmo mais veloz. No fundo, a população brasileira nutre uma grande esperança de que o processo de mudança iniciado com sua eleição avance, e que as reformas estruturantes que podem destravar o país finalmente sejam aprovadas. Não são expectativas pequenas e há muito que fazer. Oxalá o presidente tenha uma consciência cada vez maior dessa responsabilidade e esteja à altura do desafio.

Confira matéria do site Gazeta do Povo.

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