Com a inflação controlada, o cenário socioeconômico no Brasil mudou drasticamente em 25 anos, desde a estabilização da moeda. Mas em um país em que 13,4 milhões de pessoas estão procurando emprego e outras 4,8 milhões já desistiram de conseguir uma vaga, de acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), é difícil que alguém considere o problema do mercado de trabalho resolvido.
Dos desafios que ainda precisam ser superados, parte existe desde antes da década de 1990. Em 1994, com o Plano Real, a prioridade era domar a inflação. Com preços altos e reajustes diários, os salários rendiam cada vez menos, e a situação dos trabalhadores era precária e instável, principalmente a dos mais pobres. “Inflação muito alta significa perda real de salário ao longo do tempo. Todo mês tinha reajuste pela inflação do mês anterior e, como ela acelerava todos os dias, o poder de compra diminuía muito de um mês para o outro”, explica o economista-chefe da Genial Investimentos, José Márcio Camargo.
Ao estabilizar a moeda, acabou essa perda salarial, o que o especialista considera um dos maiores méritos do Plano Real. “As coisas ficaram mais tranquilas. Foi possível nos organizar financeiramente, eu e meu marido conseguimos nos estruturar e, inclusive, adquirimos um imóvel”, conta Mônica Caltabiano, 53 anos, que era sócia de uma padaria à época. “Antes do plano, existia uma dinâmica muito louca. Eu me recordo que a gente mudava os preços das mercadorias quase diariamente. Depois, as coisas ficaram mais estáveis”, lembra.
Crescimento
Na época do plano, com a situação monetária e a inflação fora de controle, a prioridade era, naturalmente, estabilizar a moeda. Agora, o Brasil precisa retomar o que foi deixado para depois em busca daquele objetivo. Passados 25 anos desde que a situação inflacionária se resolveu, a filha de Mônica, Bruna Caltabiano, 24, não se preocupa com a possibilidade de oscilação no salário, mas enfrenta o principal problema que ficou pendente em relação ao mercado de trabalho: a falta de vagas.
Arquiteta de formação e apenas um ano mais nova que o Plano Real, ela encontra dificuldades para conseguir o primeiro emprego. “É complicado. O país está saindo de uma recessão e não existem muitas oportunidades. Para recém-formados, ainda sem experiência, está muito difícil”, compartilha. Especialistas concordam que o maior problema do mercado de trabalho, hoje, é a alta taxa de desemprego. “Está caindo, mas cai lentamente, porque a economia cresce pouco. Com crescimento de 1% ao ano, não dá para resolver o problema. É preciso que o país cresça, para gerar renda. Essa é a grande pendência”, argumenta Camargo.
A dificuldade persiste desde a década de 1980, mas foi deixada para depois, porque a inflação se tornou um problema mais urgente. “Muitos dos desafios de hoje para que o país cresça e gere empregos são semelhantes à época pré-Real. Temos ambiente de negócios ruim, mão de obra pouco qualificada, baixo investimento em proporção do PIB (Produto Interno Bruto), infraestrutura defasada, elevado grau de burocracia”, lista o economista Bruno Ottoni, da Fundação Getulio Vargas (FGV) e da IDados.
Solução
Para entrar na rota de crescimento, única opção para que o país gere emprego, é preciso aprovar reformas, defendem especialistas. “A única forma de garantir o crescimento econômico sustentável é aprovando as reformas em discussão: Previdência, tributária. Não tem nenhuma outra forma e não tem milagre”, diz Camargo.
Ottoni explica que, sem reforma da Previdência, as opções podem ser drásticas, como ter que imprimir moeda. O resultado é que a inflação dispararia, “e a gente voltaria para a década de 1980”. Outra mudança que é necessária é a reforma tributária. “Tem uma carga que não é tão elevada, mas a burocracia para cobrança de tributo é muito pesada, e isso acaba inibindo investimentos”, explica. O que, na prática, significa segurar geração de empregos.
Para o economista Naércio Menezes Filho, do Inpser, os governos protegem demais as grandes empresas que não entregam os empregos necessários para absorver nem mesmo as pessoas que estão saindo mais escolarizadas para o mercado de trabalho. “No Brasil, há muitos mecanismos de proteção para grandes empresas ineficientes. Nossa carga tributária é confusa, o acesso ao crédito é difícil, as taxas de juros são elevadas, o que dificulta para os pequenos negócios”, diz.
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