Estreia com vitória | Público feminino ocupou bares para assistir vitória da seleção sobre a Jamaica. Esporte, política e gênero contra o preconceito
Não tinha blusa oficial e os xingamentos eram raros. Os comentários até tinham um quê de técnica, mas muito mais de força e admiração. Grande parte do público que se reuniu para torcer pela seleção brasileira de futebol, ontem, era de mulheres. Corpo do jeito que se quer, esporte, música, política, resistência. E a afirmação de que mulher pode, sim, sentar num bar e assistir a uma boa partida de futebol.
Foram três gols de uma mulher, Cristiane. Com ela, Formiga, Andressa, o resto do time e do Brasil. Não se viu, em edições anteriores da Copa do Mundo, tanta movimentação. Em dois estabelecimentos da Capital, a transmissão do jogo foi evento dedicado às torcedoras. E a promessa é de uma crescente. “A visibilidade que nós trouxemos para a Copa, de meninas assistindo futebol, é muito importante. E isso é algo gradativo, a mulher ocupando espaços de liderança, no esporte…”, afirmou a advogada Marina Ponte, 25.
E os espaços estavam ocupados, em frente à televisão, com opiniões, análise e torcida. Uma democratização do esporte, segundo a médica Tamye Zimmermann. Depois de disputar uma vaga em frente ao telão, ela ponderou que o movimento de libertação das mulheres hoje começou no passado e deverá ser ainda maior no futuro. “Sempre houve muito preconceito em provar que a mulher pode ser uma esportista de alto rendimento. Isso será fundamental para a geração futura”, avalia. Tamye já tinha visto a seleção brasileira feminina durante as Olimpíadas do Rio, em 2016, mas sente falta de mais acesso. “Que agora passe a ser cada vez mais televisionado”, sugere.
Cristiane fez três gols. Contundida, Marta, seis vezes melhor jogadora do mundo, não estava no campo. Pelo menos fisicamente. Para a jornalista Indyra Gonçalves, Marta estava sim jogando. “Elas são um coletivo. Diferente do masculino, onde o destaque é dado muitas vezes a um só jogador, elas são um grupo. Então a Marta está lá com elas”, ponderou. Torcedora do Fortaleza e frequentadora de estádio, Indyra falou na “cor” do jogo de ontem. “São várias cores, várias expressões. Hoje, diferente de quando vou ao estádio, estou vestida do jeito que quero, sem me preocupar”, destaca.
A cor também foi notada pela professora Ana Paula Benício. Na verdade, foi o brilho nos olhos das jogadoras da seleção. “É aquele brilho de quem passou por uma trajetória difícil e que sabe valorizar o lugar onde chegou”, diz. Para ela, o jogo feminino é mais bonito, menos agressivo, com mais posse de bola e fair play (algo como “jogo limpo”, em inglês). “Além de ter muito mais raça. Futebol é cultura no Brasil e essa representatividade feminina é um diferencial”, completa.
COPA DO MUNDO FEMININA
3×0
Brasil
4-4-2: Barbara; Letícia, Kathellen (Daiane), Mônica e Tamires; Thaisa, Formiga, Andressa Alves e Debinha; Bia Zaneratto (Geyse) e Cristiane (Ludmila)
Técnico: Vadão
Jamaica
4-3-3: Schneider; Bond-Flasza, Plummer, A. Swaby e Blackwood; C. Swaby, Solaun, Sweatman; Matthews (Brown), Shaw e Carter (Cameron)
Técnico: Hue Menzies
Local: estádio dos Alpes,
em Grenoble-FRA
Data: 9/6/2019
Árbitra: Riem Hussein (ALE)
Assistentes: Kylie Cockburn (ESC) e Mihaela Tepusa (ROM)
VAR: Bastian Dankert (ALE)
Público: 17.688 (torcedores)
Cartões amarelos: Formiga
e Daiane (Brasil)
e Plummer (Jamaica)
Gols: Cristiane aos 15MIN/1ºT, 4MIN/2ºT e 18MIN/2ºT (Brasil)
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