Milhares de pessoas foram às ruas pela segunda vez, nesta quinta-feira (30), para protestar contra o governo do presidente Jair Bolsonaro (PSL), mas o número de cidades que foi palco de protestos diminuiu, quando comparado ao último dia 15 de março. Foram em 136 cidades em 25 estados e no Distrito Federal, contra 222 municípios no primeiro ato. No domingo (26), 156 cidades registraram atos em apoio ao presidente e às reformas em 26 estados e no Distrito Federal.
Os protestos foram pacíficos. Nos atos encabeçados pela União Nacional dos Estudantes (UNE), professores e estudantes voltaram a criticar o contingenciamento de verbas pelo Ministério da Educação (MEC). Entidades sindicais que apoiam o ato, como a Central Única dos Trabalhadores (CUT), aproveitaram para criticar a reforma da Previdência. Pedidos de liberdade do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que está preso há mais de um ano em Curitiba, também puderam ser vistos e ouvidos em diferentes atos.
Mesmo com manifestações de menor expressão, no cômputo geral, o ministro da Educação, Abraham Weintraub, subiu o tom ao longo do dia. Ontem (29) à noite, pelo Twitter, o ministro já tinha divulgado um vídeo dizendo que o MEC tem recebido comunicações de pais denunciando que “alguns professores, funcionários públicos, estão coagindo os alunos, falando que serão punidos de alguma forma, caso eles não participem das manifestações”.
No meio da tarde desta quinta-feira, quando a mobilização já dava sinais de que seria mais tímida do que dia 15, o MEC divulgou uma nota afirmando que “nenhuma instituição de ensino pública tem prerrogativa legal para incentivar movimentos político-partidários e promover a participação de alunos em manifestações”.
A nota afirma ainda que professores, servidores, funcionários, alunos, e mesmo pais e responsáveis “não são autorizados a divulgar e estimular protestos durante o horário escolar” e que “os servidores não podem deixar de desempenhar suas atividades nas instituições de ensino para participarem desses movimentos”. O comunica orienta que denúncias sejam por meio do site ouvidoria do MEC.
Também nesta quinta-feira, o Ministério Público Federal (MPF) no Rio Grande do Norte ajuizou uma ação civil pública contra Weintraub, pedindo o pagamento de R$ 5 milhões por danos morais coletivos contra “honra objetiva” e a “imagem pública” de estudantes e professores de instituições públicas de ensino superior.
Uma das causas da ação são as declarações que o ministro deu ao jornal O Estado de São Paulo, há um mês, e que são um dos estopins das manifestações junto ao contingenciamento de recursos.
Brasília
As manifestações desta quinta-feira (30) começaram pela manhã em Brasília, na Esplanada dos Ministérios, onde se reuniram 1,5 mil pessoas, segundo a Polícia Militar, e dez mil pessoas, nas estimativas da organização. A estimativa de participantes divulgada pela polícia no dia 15 foi de 6 mil pessoas.
A pedido do MEC, o ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro, enviou a Força Nacional de Segurança para proteger o ministério. Um boneco representando o presidente Bolsonaro foi queimado pelos manifestantes. Antes do almoço, protestos ocorreram também em Teresina (PI), Rio Branco (AC) e Macapá (AP), Salvador (BA).
Rio de Janeiro
Os manifestantes começaram a se reunir por volta das 15h em frente à Igreja da Candelária, seguiram pela Avenida Rio Branco até a Cinelândia, onde fica o Teatro Municial, ponto tradicional de protestos no centro do Rio de Janeiro.
O público, em grande parte de jovens, entoava gritos como “Que contradição, tem dinheiro para a milícia, mas não tem para a educação” e “Quero estudar para ser inteligente, porque de burro já basta o presidente”. A cor mais frequente nas camisetas e bandeiras era o vermelho.
Dezenas de policiais militares acompanharam o ato, mas não houve incidentes. No dia 15, após o fim da manifestação, houve confronto entre vândalos e PMs, e um ônibus foi incendiado.
São Paulo
A concentração para o ato começou por volta das 16h no Largo da Batata. Estação Faria Lima de metrô, em frente ao Largo, ficou lotada no início da noite.
Além de protestar contra o contingenciamento, alguns manifestantes também pediam a liberdade do ex-presidente Lula, o fim da reforma da previdência e justiça para a vereadora assassinada Marielle Franco. O público era composto, em grande parte, por estudantes, professores, integrantes de movimentos sociais e de centrais sindicais.
Os manifestantes seguiram pela Avenida Rebouças e se dirigiram à Avenida Paulista, carregando ao longo do trajeto uma faixa enorme com os dizeres: “O Brasil se une pela educação”. A manifestação se dispersou na Avenida, em frente ao MASP, onde os manifestantes se reuniram no último dia 15.
Recife
Os organizadores do ato comunicaram que 70 mil pessoas foram às ruas na tarde desta quinta-feira (30). A Polícia Militar não informou sua estimativa de público. A mobilização, embora expressiva, foi visivelmente menor do que o protesto realizado no dia 15.
Além de atacar os cortes promovidos pelo Ministério da Educação, o ato serviu para pedir a liberdade do ex-presidente Lula, preso em Curitiba há mais de um ano.
Um trio elétrico reproduzia a todo instante discursos da maior estrela petista. A manifestação reuniu representantes de diversos partidos de esquerda, incluindo PT, PSOL, PCdoB, PSB e PDT.
Paraná
Em Curitiba, o ato durou cerca de três horas. o protesto contra os cortes na educação teve início em frente ao prédio histórico da UFPR, na Praça Santos Andrade, e se dispersou na Boca Maldita, após percorrer as ruas do centro da cidade.
Mesmo debaixo da forte chuva que caía na capital paranaense, o público do protesto foi visivelmente maior que o do último dia 15, data dos primeiros atos contra os cortes na educação superior, quando a manifestação foi pouco expressiva na cidade.
Até a noite, nem organizadores nem a Polícia Militar havia divulgado estimativa de público.
Minas Gerais
Em Belo Horizonte, manifestantes se concentraram na Praça Afonso Arinos e caminharam até a Praça da Estação, onde o ato se dispersou. O governador do estado, Romeu Zema (Nova), também foi alvo dos manifestantes, por cortes na Universidade Estadual de Minas Gerais (UEMG).
O ato pareceu equivalente ao número de público do dia 15. Segundo os organizadores, o protesto reuniu 50 mil pessoas. A polícia militar não passa estimativas de público.
Rio Grande do Sul
Em Porto Alegre, os manifestantes se reuniram na Esquina Democrática e caminharam até o Largo da Epatur, no bairro Cidade Baixa. A organização não informou o número de participantes, mas o número foi menor em comparação com o protesto do dia 15.
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