Os desgastes em torno do projeto de reforma da Previdência apresentado pelo governo levantaram, na última semana, uma questão importante. As tentativas de “desidratação” da proposta no Congresso levaram o ministro da Economia, Paulo Guedes, a declarar que deixaria o governo caso o resultado da tramitação do projeto esteja aquém do desejado. Na sequência, o presidente Jair Bolsonaro disse que “ninguém é obrigado a continuar como ministro”. Mais tarde, contemporizou, afirmando que o “casamento” com o ministro segue forte.
O anúncio de que a união segue estável alivia o país. A associação do nome de Paulo Guedes à campanha de Bolsonaro arrebanhou para as urnas uma legião de eleitores que, preocupados com as contas públicas, viram no voto uma maneira de demonstrar apoio às ideias liberais do economista. A reforma da Previdência sempre esteve entre as prioridades de Guedes, que, ainda durante a campanha e já anunciado como possível ministro, defendeu incansavelmente a medida para conter a escalada do déficit e garantir fôlego relativo às finanças do país.
O cargo de ministro não é vitalício e o cidadão que o ocupa pode deixá-lo a qualquer momento, por iniciativa própria ou por um pedido de desligamento feito pelo chefe do Executivo nacional, é óbvio. O nome que ele carrega, no entanto, tem extrema relevância na confiança que a nação deseja colher no mercado e na sociedade. Quando, ainda em campanha, um candidato adianta o nome de quem vai cuidar da economia em seu governo, ele coloca ali uma marca e pede que os eleitores depositem nela sua confiança. A partir daí, está formado um pacto que precisa ser honrado e respeitado.
A reforma da Previdência é um tema urgente e polêmico e todos os agentes envolvidos em sua apreciação têm consciência de sua importância para o equilíbrio das contas do país. Naturalmente, embates entre as diversas correntes ideológicas vão ocorrer. O mesmo choque se esperava entre as categorias envolvidas, com a defesa dos interesses dos militares, servidores públicos e trabalhadores em geral. O tema é delicado na mesma medida em que é crucial e merece ser tratado, igualmente, com o vigor e a serenidade necessários a um desfecho que seja realmente satisfatório para as contas públicas e para o futuro do país.
O momento pede conciliação e serenidade. A apreciação da proposta do governo, que pretende economizar R$ 1 trilhão em 10 anos, merece ponderação extra tanto do Executivo quanto do Congresso. Superministros do governo Bolsonaro, Paulo Guedes e Sérgio Moro são como apêndices da chapa que saiu vitoriosa das urnas em 2018. Muito mais que peças com encaixe simples e reposição fácil, personificam a esperança de milhões de brasileiros. É importante tanto que driblem o destempero quanto que sejam devidamente reconhecidos e respeitados pela equipe que compõem. Mesmo longe da monarquia há casamentos que podem ser cruciais ao futuro de uma nação.
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