Alimentada por fake news, ultradireita chega fortalecida à eleição europeia

Manifestantes em Bucareste pedem maior conscientização nas eleições para o Parlamento Europeu Foto: EFE/EPA/ROBERT GHEMENT

Para analistas, grupos nacionalistas se tornaram ameaças maiores à UE do que potências estrangeiras, como a Rússia, espalhando discurso de ódio e mensagens de supremacia branca por meio de Facebook e Twitter
LONDRES – Nunca uma eleição para o Parlamento Europeu teve tanta importância como a que começa nesta quinta-feira, 23, com votação no Reino Unido e na Holanda, justamente porque forças nacionalistas de ultradireita contrárias à União Europeia tendem a ganhar espaço em seu Legislativo. A campanha foi marcada por grupos que espalham discurso de ódio e notícias falsas por meio do Facebook e de aplicativos de bate-papo privados e criptografados como o WhatsApp.

Segundo analistas, estes grupos nacionalistas se tornaram ameaças maiores do que potências estrangeiras, como a Rússia. Os principais alvos são França, Alemanha, Itália, Reino Unido, Polônia e Espanha, onde pelo menos 500 páginas do Facebook foram descobertas nesta semana, às vésperas da eleição. Cerca de 400 milhões de pessoas em 28 países podem votar nas maiores eleições transnacionais do mundo, escolhendo 751 representantes no Parlamento Europeu.

Nesta quarta-feira, um estudo divulgado pela ONG Avaaz identificou 550 contas do Facebook usadas para disseminar ataques à UE, contra imigrantes e contra minorias étnicas. A rede de contas teria sido criada por cinco ou seis usuários falsos, publicava discursos de ódio e pretendia “espalhar mensagens de supremacia branca”. A Avaaz identificou 328 perfis que partilhavam ataques e notícias falsas. As páginas foram visualizadas 533 milhões de vezes em apenas três meses.

O Facebook eliminou as contas que tinham cerca de 6 milhões de seguidores e nas quais proliferavam notícias falsas e discursos de ódio. A maioria foi descoberta por publicar e partilhar, por meio de perfis falsos, conteúdo desinformativo. A Avaaz está investigando outras contas, que somam 26 milhões de seguidores.

Essas redes eram muito mais populares do que as páginas oficiais dos grupos populistas de extrema-direita e anti-União Europeia (UE) naqueles países. “As páginas têm altos níveis de interação, algumas com milhões de seguidores, mas mesmo as que têm poucos seguidores podem atingir milhões de pessoas em razão das múltiplas interações”, afirmou ao Estado Luca Nicotra, analista do Avaaz na Itália que participou da investigação. Segundo o Avaaz, “eles têm mais de 500 milhões de visualizações apenas nas páginas apagadas, o que é mais do que o número de eleitores na UE”.

As notícias e ataques divulgados por grupos populistas e de extrema direita promovem temas contra imigração, gays e minorias étnicas, além de negar o aquecimento climático. “Antes era possível identificar a participação da Rússia e seus grupos. Agora, o que vemos são grupos transnacionais, como a Far Right, usando notícias falsas e discurso de ódio, além de um conjunto mais complexo de táticas para amplificar as narrativas populistas”, afirmou à Associated Press Sasha Havlicek, CEO do Institute for Strategic Dialogue, um instituto de consultoria britânico.

As empresas de tecnologia intensificaram os esforços para combater notícias falsas. O Facebook montou uma equipe de pesquisadores e especialistas em inteligência para monitorar abusos. O Twitter lançou uma ferramenta para os usuários da UE denunciarem deliberadamente conteúdo enganoso relacionado a eleições. As duas empresas afirmam não ter detectado nenhum ataque ou perigo vindo da Rússia. As duas empresas de mídia social, juntamente com o Google, reforçaram os requisitos para a publicação de anúncios políticos, incluindo a confirmação de identidades de compradores de anúncios.

Segundo analistas, isso pode estar acontecendo porque as ameaças estão vindo de dentro dos países. Nos últimos três meses, a Avaaz descobriu páginas suspeitas na França, Alemanha, Itália, no Reino Unido, na Polônia e Espanha. Pesquisadores da Universidade de Oxford estudaram nos últimos meses tuítes relacionados às eleições da UE e descobriram na semana passada que apenas uma pequena fração de notícias falsas veio de fontes russas. “Quase nenhuma das porcarias que encontramos circulando online vem de fontes russas conhecidas”, disse Nahema Marchal, pesquisador do Oxford Internet Institute. “Em vez disso, é a mídia caseira, hiper-partidária e alternativa que domina.”

Partidos nacionalistas, como a Liga, de Matteo Salvini, devem obter o maior ganho no Parlamento Europeu, segundo pesquisas
Partidos nacionalistas, como a Liga, de Matteo Salvini, devem obter o maior ganho no Parlamento Europeu, segundo pesquisas Foto: EFE/ Claudio Longo

Segundo os analistas, que compilaram cerca de 585.000 tuítes em sete idiomas falados na Europa, as notícias mais populares estavam centradas em temas populistas como ataque à imigração e islamofobia, e poucos atacaram líderes e partidos europeus ou expressaram ceticismo sobre a UE.

Além de postagens no Twitter e no Facebook, muitas mensagens e discussões foram compartilhadas em grupos privados do Facebook ou bate-papos criptografados no WhatsApp e Telegram, que a UE e governos nacionais não podem monitorar com facilidade. / AP, NYT e REUTERS, COLABOROU RODRIGO TURRER.

Confira matéria do site Estadão.

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