O catarinense Angelo Spricigo começou a coleção quando a esposa faleceu em 1997 e ele decidiu restaurar as duas máquinas de costura que eram dela, para manter sua memória viva
Angelo e Maria Spricigo foram casados por 62 anos, até que em 1997 ela acabou falecendo. Diante da ausência da amada, Angelo procurou atividades que pudessem ocupa-lo durante os dias, até encontrar no sótão da casa em que moravam, em Concórdia, Santa Catarina, as duas máquinas de costura que Maria usava para fazer as roupas da família. Ele então limpou, engraxou e restaurou cada uma. “Foi a maneira de estar próximo da vó”, contou ao Sempre Família, Valdecir Giotto, neto do casal. Angelo tomou gosto pelo trabalho, aos poucos aumentou o número de máquinas e hoje, aos 104 anos, mantém um museu em sua casa com 1.744 peças.
“Depois de cuidar das máquinas da vó, ele foi ao ferro velho aqui na cidade e comprou mais quatro. Na época ele tinha 82 anos e levantava cedo para restaurá-las”, lembra Valdecir. E assim Angelo seguiu aumentando a coleção que o fazia lembrar de Maria. Aos 90 anos ele já tinha 100 máquinas, aos 95 contava com 520, e quando abriu oficialmente o Museu da Máquina de Costura, em 2013, tinha 874 delas. “Em 2014 ele ganhou da Rank Brasil o título de proprietário do maior acervo de máquinas de costura do país”, conta o neto.
Valdecir lembra que durante a vida o avô tivera diversos ofícios, entre eles o de sapateiro. E isso fora o mais próximo que ele havia chegado de uma máquina de costura. Mas a avó, dona Maria, havia sido professora na juventude, e após o casamento dedicou-se à casa. “Quando eles casaram era comum que a mulher ganhasse uma máquina dessas para fazer as roupas da família”, diz. Então, era comum que Angelo visse a esposa sempre por perto da peça. “Casados por mais de 60 anos, foi cuidando das máquinas da vó e depois abrindo o museu, que ele achou um jeito de manter ela sempre presente”.
Juntos, Angelo e Maria tiveram nove filhos, 16 netos e 14 bisnetos. Valdecir hoje é gestor do museu. A família criou há algum tempo a Associação Cultural Angelo Spricigo, que é mantenedora do espaço e faz a gestão de ações no local. Eles oferecem gratuitamente cursos de costura e têm parcerias com projetos de cuidados com a saúde mental. O Museu da Máquina de Costura fica no porão da casa em que o casal sempre viveu, em Concórdia. E o Angelo continua morando ali. Aos 104 anos, sempre que pode, ele desce até o lugar para conversar com visitantes ou mesmo para um passeio cheio de saudosismo.
No site do museu é possível fazer um tour em 360 graus. O espaço funciona de segunda a sexta-feira, das 14 às 18 horas, mas com agendamento, em qualquer horário os visitantes são bem-vindos. A entrada é gratuita e talvez ainda há chances de que uma conversa com o Angelo aconteça.
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