Consumo de álcool potencializa atos de violência nos estádios

Consumo de bebidas em estádios pode ocasionar mais violência Paulo Whitaker/Reuters

A liberação do consumo de bebida alcoólica nos estádios é considerada um retrocesso por diferentes especialistas, dentre eles, um sociólogo, um promotor de Justiça e até mesmo a ativista Maria da Penha

O consumo de bebidas alcoólicas é proibido por Lei Federal (Nº 10.671/2013), mas um Projeto de Lei (PL 85/2019) do deputado Evandro Leitão (PDT) pode mudar essa decisão no Ceará. Tramita na Assembleia Legislativa do Estado do Ceará (AL-CE) o projeto que é considerado um retrocesso por especialistas da área de segurança pública, direito, sociologia, e até a cearense Maria da Penha, símbolo cearense da luta contra a violência às mulheres.

“O álcool não é uma causa única, mas é potencializadora. Ele aumenta a possibilidade de agressão, de ultrapassagem de limite e, consequentemente, possibilita a violência. Todas as pesquisas médicas e sociais que nós levantamos indicam isso: o etanol diminui a autocrítica e a censura”, comenta Maurício Murad, sociólogo que pesquisa violência no estádio e entre torcidas desde os anos 1990.

“Quando você tira do ser humano a autocensura (cientificamente comprovado), e joga em uma panela de pressão que é um estádio, com o acirramento entre as torcidas, nervos à flor da pele, e junta isso tudo ao álcool, a gente entende que é colocar fogo na panela de pressão”, informa Edvando Elias de França, promotor de Justiça e coordenador do Núcleo de Defesa do Desporto e do Torcedor (Nudtor) do Ministério Público do Ceará.

“Futebol é um local de emoções, de amor, paixão às cores do time. Mesmo sem bebida, já é um clima tenso de rivalidade. Botar bebida no estádio é botar combustível dentro de uma fogueira”, reitera o promotor Edvando Elias.

“Existe uma associação direta entre bebida alcoólica e violência, seja no trânsito, com violência doméstica, nos relacionamentos interpessoais”, revela o coronel Plauto de Lima, da Polícia Militar do Estado do Ceará (PMCE).

Barreira hierárquica

A decisão cearense por uma possível liberação das bebidas alcoólicas nos estádios esbarra nas possibilidades legislativas de aplicação. “Isso não é possível. A hierarquia constitucional das normas não permite isso. Mesmo que a Assembleia aprove isso, o Ministério Público vai para cima tentar suspender essa decisão, que é uma decisão absolutamente absurda”, finaliza Edvando.

Roberto Lasserre, coordenador nacional do Movimento Brasil Sem Drogas, também reverbera o desacordo. “Nós entendemos que o álcool é uma droga, uma das mais perigosas, perniciosas, e que mais causam problemas e violência, tanto no trânsito, quanto contra as mulheres, feminicídios, etc”, avalia Roberto.

Maria da Penha, símbolo da luta contra a violência às mulheres, também comentou a possibilidade de liberação. “A gente tem que deixar de botar pólvora entre as pessoas que bebem. Eu fico horrorizada de como as pessoas acham que não vai acontecer nada”, complementa.

Confira matéria do Site Diário do Nordeste

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