Em reação à oposição, Maduro diz que tem lealdade de militares e convoca mobilização popular: ‘Venceremos’

Pessoas reagem a bombas de gás lacrimogêneo atiradas perto da Base Aérea 'La Carlota' Generalísimo Francisco de Miranda, em Caracas, na Venezuela — Foto: Carlos Garcia Rawlins/Reuters

Juan Guaidó pediu que população saia às ruas contra regime e também declarou ter apoio de militares para pôr ‘fim à usurpação’ na Venezuela.

O presidente venezuelano Nicolás Maduro fez em rede social sua primeira manifestação sobre a mobilização liderada pelo presidente autoproclamado Juan Guaidó para derrubá-lo, iniciada na manhã desta terça-feira (30). Maduro disse ter a lealdade de militares e convocou uma mobilização social. Em Caracas, manifestantes entram em confronto com as forças de segurança.

Nervos de Aço! Conversei com os comandantes de todas as REDI e ZODI do país, que me manifestaram sua total lealdade ao povo, à Constituição e à Pátria. Convoco a máxima mobilização popular para assegurar a vitória da paz. Venceremos!” , afirmou Maduro em uma rede social.

Redi e Zodi são as siglas para Regiões de Defesa Integral e Zonas de Defesa Integral, respectivamente.

O ministro da defesa, Vladimir Padrino López, se pronunciou na TV e disse que “este ato de violência foi derrotado. Quase todo esse grupo de uniformizados com armas deixou o distribuidor e foi para a praça Altamira, repetindo 2002″(naquele ano houve um golpe que derrubou Hugo Chávez temporariamente). Ele terminou o pronunciamento dizendo “Chávez vive!”

O que aconteceu até agora

  • Presidente autoproclamado Juan Guaidó convoca população às ruas e diz ter apoio de militares
  • Presidente Nicolás Maduro afirma que conversou com todos os comandantes das chamadas Redi (Regiões de Defesa Integral) e Zodi (Zona de Defesa Integral), que, segundo ele, manifestaram “total lealdade ao povo, à Constituição e à pátria”
  • Líder da oposição Leopoldo López, que estava em prisão domiciliar após decisão sob o regime de Maduro, é liberado e vai às ruas ao lado de Guaidó
  • Diosdado Cabello, que comanda a Assembleia Constituinte pró-Maduro, convoca apoiadores do governo a se dirigirem para o Palácio presidencial de Miraflores
  • Policiais disparam bombas de gás contra manifestantes em Caracas. Segundo TV estatal, eles tentam dispersar “golpistas”
  • Ministro brasileiro de Relações Exteriores, Ernesto Araújo, afirma que o Brasil espera que militares venezuelanos apoiem a “transição democrática” no país vizinho
  • Secretário de estado dos EUA, Mike Pompeo, diz que governo norte-americano “apoia plenamente o povo venezuelano em sua busca por liberdade e democracia”
Juan Guaidó cumprimenta um militar perto de uma base aérea em Caracas — Foto: Carlos Garcia Rawlins/Reuters

Operação Liberdade’

Guaidó convocou a população às ruas e declarou ter apoio de militares para pôr fim ao que ele chama de “usurpação” na Venezuela. “Povo da Venezuela, começou o fim da usurpação. Neste momento, me encontro com as principais unidades militares da nossa Força Armada, dando início à fase final da Operação Liberdade”, disse em uma rede social.

Ele fez uma pronunciamento diante de manifestantes. “Hoje, já sabemos que todos os venezuelanos estão a favor da mudança e sabemos que o povo, incluindo as Forças Armadas, estão a favor da Constituição. Os soldados em Caracas e em todo o país estão do lado da Constituição e contra a ditadura”, afirmou.

“O golpe de estado é de quem usa os militares para atacar o nosso povo. Os militares existem para defender o povo. O nosso protesto é e será pacífico”, disse Guaidó.
Mais cedo, em um vídeo, Guaidó apareceu ao lado de Leopoldo López, um outro opositor, que cumpria prisão domiciliar imposta sob o regime de Maduro. Segundo Guaidó, o governo autoproclamado [de oposição a Maduro] libertou López, que seguiu para as ruas.

“Este é o momento, a convenção é mundial, acabem com a usurpação, todos saiam às ruas”, afirmou López.

Leopoldo Lopez, que cumpria prisão domiciliar, ao lado de militar ao lado de base aérea em Caracas — Foto: Carlos Garcia Rawlins/Reuters

Inicialmente, Guaidó e outros oposicionistas se concentraram perto da base aérea militar conhecida como La Carlota. A base fica na região leste de Caracas, a cerca de 13 quilômetros do Palácio Miraflores, sede do governo. Em 2002, o local foi declarado zona de segurança militar. Os voos para lá estão proibidos desde 2014, de acordo com o jornal colombiano “El Mundo”.

Reações do governo de Maduro

O ministro das relações exteriores da Venezuela, Jorge Arreaza (foto de arquivo), negou golpe militar em andamento e culpou os Estados Unidos pela situação na Venezuela nesta terça (30). — Foto: Manaure Quintero/Reuters

Antes da manifestação de Maduro, o ministro da Defesa venezuelano, Vladimir Padrino, já havia afirmado que as Forças Armadas seguirão firmes “na defesa da Constituição nacional e das autoridades legítimas” e que os quartéis reportam normalidade nas bases.

O ministro da Comunicação, Jorge Rodríguez, afirmou que um “grupo reduzido” de militares “traidores” se posicionou para “promover um golpe de estado”, mas que estavam sendo “enfrentados” e “desativados”.

O procurador-geral venezuelano, Tarek William Saab, alertou que o Ministério Público está juntando provas contra os “reincidentes nesta tentativa de atividade conspiratória à margem da legalidade”.

O ministro das relações exteriores da Venezuela, Jorge Arreaza, negou um golpe militar no país e acusou Juan Guaidó de operar sob ordens dos Estados Unidos, segundo a agência de notícias Reuters. “Não existe uma tentativa de golpe das forças armadas. Isto está sendo diretamente planejado em Washington, no Pentágono e no Departamento de Estado”, disse Arreaza à agência em uma entrevista por telefone.

Manifestações
Por volta de 12h, grupos de manifestantes tentavam entrar na base área La Carlota. O local foi escolhido como ponto de apoio a Guaidó, mas não era controlado por militares que o apoiam até o início desta tarde.

De acordo com a rede de televisão estatal Telesur, policiais tentaram dispersar com gás lacrimogêneo aqueles considerados “golpistas”.

Carros blindados da polícia avançavam sobre manifestantes. Um dos veículos chegou a acelerar sobre a multidão, atropelando pessoas e provocando correria que derrubou mais gente perto da La carlota.

Manifestante apoiador de Guaidó atira de volta uma bomba de gás-lacrimogêneo atirada por forças de Maduro durante confronto em frente à base aérea ‘La Carlota’, em Caracas — Foto: Matias Delacroix/AFP

Brasil reafirma apoio a Guaidó

O presidente Jair Bolsonaro disse que o Brasil “acompanha com bastante atenção” a situação na Venezuela. Ele também reafirmou apoio ao presidente autoproclamado.

“O Brasil está ao lado do povo da Venezuela, do presidente Juan Guaidó e da liberdade dos venezuelanos”, disse Bolsonaro.
Em entrevista coletiva nesta manhã, o ministro brasileiro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, afirmou que o Brasil espera que militares venezuelanos apoiem a “transição democrática” no país vizinho. Segundo Araújo, o Brasil ainda está reunindo informações sobre o que está ocorrendo no país vizinho nesta terça.

Nesta tarde, o presidente Jair Bolsonaro fará uma audiência de emergência para discutir a situação da Venezuela com o vice-presidente Hamilton Mourão e os ministros Fernando Azevedo e Silva (Defesa) e Augusto Heleno (Gabinete de Segurança Institucional), além de Araújo.

O que diz o governo dos EUA

O secretário de estado dos Estados Unidos, Mike Pompeo, afirmou, também por meio de rede social, que o governo norte-americano “apoia plenamente o povo venezuelano em sua busca por liberdade e democracia”. “A democracia não pode ser derrotada”, diz o post.

Crise na Venezuela
A tentativa de derrubar o regime de Nicolás Maduro é o mais recente capítulo na profunda crise política da Venezuela. Há mais de 15 anos, a Venezuela enfrenta uma crescente crise política, econômica e social.

O país vive agora um colapso econômico e humanitário, com inflação acima de 1.000.000% e milhares de venezuelanos fugindo para outras partes da América Latina e do mundo.

Neste mês, diversas interrupções no fornecimento de energia e água ameaçaram uma catástrofe sanitária. A ONG norte-americana Human Rights Watch disse que a saúde do país está sob “emergência humanitária complexa”.

Confira matéria do site G1.

Be the first to comment on "Em reação à oposição, Maduro diz que tem lealdade de militares e convoca mobilização popular: ‘Venceremos’"

Leave a comment

Your email address will not be published.


*