Depois do carnaval, governo e oposição começam batalha pela Previdência

(foto: Ed Alves/CB/D.A Press )

A batalha da Previdência vai, efetivamente, começar. A instalação da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara, na quarta-feira, dá início à primeira batalha de um confronto que promete se estender por, no mínimo, três meses. O conflito não será físico, mas, sim, de inteligência. Ganhará o lado que melhor trabalhar a comunicação, o conteúdo e o convencimento da necessidade ou não de modernização nas regras de aposentadorias. O conflito tem vários atores e se estende da Esplanada dos Ministérios a todos os estados e municípios do país. Mas o campo de batalha é o Congresso Nacional, onde a luta se divide entre três frentes: a base de apoio formal e consistente ao texto, os independentes e a oposição.
O governo usará toda a artilharia de que dispõe para vencer o primeiro confronto com um projeto inicial de comunicação integrada, mas, por ora, começa a guerra em desvantagem. A base de suporte à reforma do presidente Jair Bolsonaro conta com apenas o partido do próprio chefe do Executivo federal, o PSL. A bancada é, ao lado do PT, a maior da Câmara. Conta com 54 deputados. No entanto, não dispõe ainda de ampla unidade e consenso sobre a reforma. Dentro da legenda, alguns parlamentares não se sentem convencidos de exceções para algumas categorias, um incômodo que precisará ser pacificado com a intensificação dos diálogos a partir desta semana.
A aprovação de uma PEC na Câmara depende de um mínimo de 308 votos favoráveis dos deputados em votação nominal em dois turnos, ou seja, 3/5 dos parlamentares da Casa. Significa que, ainda que o governo consiga apoio de todos os deputados do PSL, faltariam, pelo menos, 254 votos. Como nenhuma guerra se ganha sozinho, o Palácio do Planalto precisa formar alianças, cobra o líder do PSL na Câmara, Delegado Waldir (GO). “O governo precisa formar sua equipe e base para tentar reunir mais aliados. Quem vai coordenar tudo isso é o Onyx (Lorenzoni, ministro-chefe da Casa Civil), que lidera tanto a Câmara quanto o Senado”, destaca.

Convencimento

Nas contas da articulação política, o governo pode formar uma aliança com até 325 votos distribuídos em 21 partidos. O cálculo desconsidera o total de 134 votos atribuídos à oposição à reforma, composta por sete legendas, e os 54 do PSL. O problema está em convencer o bloco dos independentes. Para garantir uma boa relação com o Congresso, o Planalto deve montar a estrutura de governo no Parlamento, com novas negociações e diálogos. Mas a interlocução dividida entre Onyx e os líderes do governo na Câmara, Major Vitor Hugo (PSL-GO), e no Congresso, Joice Hasselmann (PSL-SP), é criticada por todos os lados em um intenso fogo amigo.
O arsenal do governo ainda não convence os independentes a se aliarem. A munição usada pela articulação política apresentada até o momento é o apadrinhamento de aliados políticos por critérios técnicos em postos não muito atrativos, algo que constrangeu alguns líderes partidários e irritou outros. Uma opção de artilharia é a abertura dos cofres para liberar emendas parlamentares, fruto, também, de críticas por benesses como bônus na concessão de recursos a deputados novatos.
Por enquanto, as lideranças partidárias aguardam os impactos do governo em outra batalha, a da comunicação. O Planalto prepara uma diálogo integrado com a sociedade por meio das redes sociais e dos veículos de comunicação. Enquanto o Executivo ainda calibra o arsenal, os independentes no Legislativo estão com munições e armas em punho para escolher um lado na guerra. Tudo dependerá de quem persuadir melhor. “Se o governo quer o nosso apoio, vai ter que convencer, porque não somos da base. Nós queremos o melhor para o país, mas tem que ter um projeto e uma proposta de convencimento real”, alerta o líder do Podemos na Câmara, José Nelto (GO).
Os autônomos na guerra da Previdência exigem do governo e da oposição explicações fundamentadas. O Planalto diz que há deficit no Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) e, com a reforma, as aposentadorias serão garantidas e as desigualdades serão reduzidas. A narrativa da oposição aponta o contrário, ressaltando que os mais pobres serão os mais penalizados. O convencimento de um lado ou de outro, no entanto, só se concretizará com transparência. “O governo, por exemplo, vai ter que mostrar o tamanho e a verdade desse rombo. E vai precisar detalhar como criar anticorpos e vacina contra as fraudes e devedores. Nenhuma bancada vai aceitar meia transparência”, ressalta Nelto.
A promessa dos partidos neutros na reforma é lutar ao lado das categorias mais frágeis. Mulheres, idosos e trabalhadores rurais. Por isso, garantem que vão batalhar para ajustar regras propostas pela PEC de Bolsonaro como a do Benefício de Prestação Continuada (BPC), que prevê pagamento de R$ 400 para o idoso pobre a partir dos 60 anos. Prometem lutar, também, pela extinção dos privilégios, com revisões nas aposentadorias para militares e políticos. “Todos (líderes) sentiram que as regras do BPC e do trabalhador rural não dão para passar do jeito que está”, argumenta o líder do PTB na Câmara, Pedro Lucas Fernandes (MA).
O debate sobre o fim dos privilégios, entretanto, promete uma longa batalha. Não há consenso sobre como reformar, por exemplo, a aposentadoria de servidores públicos. “Vamos defender pontos que achamos que devem ser mantidos, como direitos adquiridos de uma forma geral”, declara o líder do PR na Câmara, José Rocha (BA). O parlamentar cita como exemplo as categorias de professores e do magistério.

Tática

A oposição prepara uma artilharia de guerra contra o governo. O bloco contrário à reforma, composto por PT, PSB, PDT, PSol, PCdoB e PPL, promete usar todos os canais de comunicação para mostrar como a reforma vai mexer nos direitos dos trabalhadores, ao contrário do que o governo fala, diz o líder da oposição na Câmara, Alessandro Molon (PSB-RJ). “Faremos um trabalho de informação por meio das redes sociais, de corpo a corpo, atos, cartazes, debates, palestras, e, também, vamos contar com ajuda para esclarecer isso com as centrais sindicais, mas não apenas elas”, explica Molon.
O trabalho de comunicação também será feito de casa em casa, em pontos de concentração, paradas de metrô, ônibus, em praças e locais de trabalho, endossa o líder do PT na Câmara, Paulo Pimenta (RS). “Faremos um trabalho pedagógico. Vamos preparar um material para que a pessoa possa simular como fica a situação da sua aposentadoria e vamos fazer grande mobilização para buscar apoio da sociedade para que pressione os parlamentares a derrotarem a proposta do governo”, reforça.
A força-tarefa nas redes sociais e nas ruas será importante para desmascarar as mentiras do governo, avalia Molon. “Na prática, vão ter que trabalhar mais, contribuir por mais tempo e receber menos ao se aposentarem”, explica. A oposição também mostrará todos os discursos de Bolsonaro contra a reforma ao longo da vida parlamentar, inclusive durante a campanha eleitoral. “Vamos apresentar o estelionato eleitoral dele, que, em momento algum, falou que faria essa reforma aos eleitores”, argumenta Pimenta.

Confira matéria do Site Correio Braziliense.

Be the first to comment on "Depois do carnaval, governo e oposição começam batalha pela Previdência"

Leave a comment

Your email address will not be published.


*