Ex-presidente da aliança Renault-Nissan-Mitsubishi pagou fiança equivalente a R$ 33,8 milhões ao tribunal japonês. O brasileiro estava preso desde 19 de novembro, acusado de fraude fiscal e uso de verbas do grupo para benefício próprio.
Carlos Ghosn, ex-presidente da aliança Renault-Nissan-Mitsubishi, deixou a prisão em Tóquio nesta quarta-feira (6) após o pagamento de uma fiança milionária. O brasileiro estava preso desde 19 de novembro, acusado de fraude fiscal e uso de verbas do grupo para benefício próprio.
O empresário deixou a Casa de Detenção do bairro de Kozuge às 16h32 (horário local, 4h32 de Brasília), segundo imagens divulgadas pela televisão japonesa.
O local estava cercado por jornalistas à sua espera e o executivo estava disfarçado: usava óculos, máscara, boné e um macacão. Mais tarde, foi fotografado de paletó e sem os acessórios, ao deixar o escritório de seu advogado.
Caso raro
Ghosn pagou fiança de 1 bilhão de ienes, o equivalente a R$ 33,8 milhões, e ficará em liberdade enquanto aguarda o julgamento, que deve acontecer dentro de alguns meses.
A fiança raramente é concedida no Japão sem uma confissão do réu. De acordo com a agência de notícias Nikkei, apenas 30% dos réus tiveram esse direito antes do julgamento no país em 2017. A expectativa, inclusive, era de que o executivo continuasse detido até ser julgado.
Ghosn nega irregularidades, diz que agiu sempre com aval da Nissan e é vítima de complô.
“Sou inocente e estou totalmente empenhado em me defender com vigor em um julgamento justo contra essas acusações sem mérito e infundadas”, disse em comunicado divulgado na véspera de ser solto.
Regras para Ghosn
Segundo a agência France Presse, a esposa de Ghosn, Carole, uma de suas filhas e o embaixador da França chegaram algumas horas antes à prisão. Eles não saíram juntos do executivo.
O tribunal estabeleceu algumas condições para que ele fosse solto. Veja as regras:
- proibido de sair do Japão;
- permitido viajar só em território japonês e por apenas dois dias;
- vigilância por câmeras em sua residência;
- proibido de entrar em contato com outros envolvidos no caso;
- proibido de ter contato com pessoas ligadas à Renault, Nissan e Mitsubishi;
- proibido de acessar a internet;
- proibido de utilizar computadores fora do escritório de seus advogados;
- visitas monitoradas.
Promotores apelaram
Antes de estabelecer um valor de fiança para libertar Ghosn, o Tribunal de Tóquio rejeitou outros dois pedidos feitos pela defesa do brasileiro.
Descontente, Ghosn decidiu mudar em fevereiro sua equipe de defesa, antes de abordar a fase de preparação do julgamento.
Após o Tribunal Distrital de Tóquio determinar que ele poderia ser solto, promotores tentaram barrar a saída do ex-presidente da Nissan da prisão, mas a Justiça negou a apelação.
A libertação permitirá a Ghosn “defender-se livre e soberanamente”, opinou o ministro da Economia da França, Bruno Le Maire. O governo francês é acionista na Renault.
“É essencial proteger o princípio da presunção de inocência e dar a cada um a possibilidade de defesa nas melhores condições possíveis”, completou o ministro.
A libertação de Ghosn “não tem consequências para os negócios da Nissan”, afirmou o atual diretor geral do grupo, Hiroto Saikawa.
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