O ciclo de aperto ainda longe do fim

Dinheiro / Real - 25-05-2017 - O Real é a moeda corrente oficial da República Federativa do Brasil. A cédula de um real deixou de ser produzida, entretanto continua em circulação alguns exemplares. As demais cédulas de real continuaram sendo produzidas normalmente pela Casa da Moeda. Entre elas, as notas de: 2,5,10,20,50 e 100. Na foto, detalhes de uma nota de 100 reais.

Da última vez que o Brasil teve juros básicos na casa dos 6%, no período que começou em fevereiro de 2018 e foi até setembro de 2019, a Selic estava em rota decrescente, com um intervalo de estabilidade que durou pouco mais de um ano, quando a taxa estacionou em 6,50%. Antes disso, havia ocorrido um ciclo de queda iniciado com a cassação de Dilma Rousseff, em agosto de 2016; e, depois, os juros voltaram a cair até chegarem à mínima história de 2% ao ano, mantida até março deste ano. Foi uma época marcada por algumas importantes reformas macroeconômicas, como o teto de gastos e a reforma da Previdência, e de inflação relativamente sob controle – o IPCA foi de 2,95% em 2017, 3,75% em 2018, 4,31% em 2019 e 4,52% em 2020.

A Selic, portanto, volta à casa dos 6% – mais precisamente, 6,25%, com o aumento de um ponto porcentual na reunião do Copom encerrada na quarta-feira – em um contexto completamente diferente. A inflação está fora de controle, beirando os 10% no acumulado de 12 meses e sem perspectivas para retornar a níveis toleráveis no futuro próximo, pois segue pressionada por dois itens que têm efeito sobre muitos outros preços: a energia elétrica, que seguirá cara por um bom tempo, graças à crise hídrica; e os combustíveis, em alta graças ao real desvalorizado e aos preços ascendentes do petróleo no mercado internacional. A deterioração é tão acentuada que, no comunicado divulgado ao fim da última reunião, na quarta-feira, as projeções de inflação para 2021 eram dois pontos porcentuais maiores que aquelas do comunicado anterior, da reunião realizada no início de agosto.

A mesma taxa de juros que, em um passado não muito distante, bastou para domar a inflação já não será suficiente para atingir este objetivo agora

E é na comparação dos sucessivos comunicados que se percebe pouquíssima mudança naquele fator que poderia ajudar o Banco Central a manter a inflação sob controle sem ter de elevar tanto os juros: a responsabilidade fiscal. Trechos como “perseverar no processo de reformas e ajustes necessários na economia brasileira é essencial para permitir a recuperação sustentável da economia” e “questionamentos sobre a continuidade das reformas e alterações de caráter permanente no processo de ajuste das contas públicas podem elevar a taxa de juros estrutural da economia” vêm sendo apenas copiados e colados, comunicado após comunicado, há mais de um ano, revelando que pouco ou nada foi feito neste sentido. Desde o surgimento da pandemia, um novo trecho somou-se às presenças habituais nos comunicados: “novos prolongamentos das políticas fiscais de resposta à pandemia que pressionem a demanda agregada e piorem a trajetória fiscal podem elevar os prêmios de risco do país”.

Em outras palavras: antes da pandemia, já havia dúvidas sobre a continuidade do processo reformista depois da aprovação da reforma da Previdência; depois do coronavírus, a magnitude dos gastos – necessários, sempre é preciso dizer – para mitigar os efeitos econômicos da quebradeira e do empobrecimento da população tornava ainda mais urgente a retomada do ajuste fiscal e das reformas assim que houvesse a oportunidade. Em vez disso, governo e Congresso buscam formas de aumentar gastos em vez de reduzi-los, e as reformas perdem força: a administrativa, que poderia ser um excelente meio de conter o gasto público, vem sendo lentamente demolida substitutivo após substitutivo, cheia de concessões ao corporativismo.VEJA TAMBÉM:

Isso significa que a mesma taxa de juros que, em um passado não muito distante, bastou para domar a inflação já não será suficiente para atingir este objetivo agora, até porque o Copom já promete, para a próxima reunião, novo aumento de um ponto na Selic. E não há como culpar apenas a falta de chuvas ou o cartel internacional que faz os preços do petróleo: também os humores em Brasília, hoje mais gastadores e populistas que outrora, colabora para minar a confiança na capacidade de o país adotar trajetória fiscal responsável e fortalecer sua moeda, passo essencial para trazer de volta a inflação para dentro da jaula.

Confira a matéria na Gazeta do Povo

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